Antropólogo diz que brasileiro não acredita que pode ser contaminado

Festa interrompida: pessoas se sentem protegidas por amuletos, rezas, patuás e não se acham "otárias" - foto ilustrativa

As estatísticas brasileira na pandemia denunciam crescimento no número de casos e de mortes, mas também alto número de recuperados. No dia oito deste julho que termina o país atingiu o total de um milhão de doentes recuperados, para 1.713.160 de casos confirmados e 67.964 mortes pelo novo coronavírus. Informações assim levam muita gente a negligenciar os perigos da infecção, o que o antropólogo e professor da PUC-Rio Roberto Da Matta identifica como mais uma característica do brasileiro:

“Somos uma sociedade relacional, em que as relações são mais importantes que os indivíduos, uma sociedade em que chegar perto e tocar os outros é sinal de afeto. Então fica difícil manter o isolamento e aceitar que mortes acontecem devido a isso”, disse ele em rápida entrevista ao jornal onde mantém coluna semanal. E acrescentou:

“Tem também aquela ideia brasileira de que com você não vai acontecer. Seguir normas gerais é coisa para otário, para quem é inferior. Quem é superior acha que não pega. A condição religiosa também é muito forte, tem gente que acha que usar um amuleto, benzer, não pega. No caso do Brasil, existe um alto nível de contaminação, mas também de recuperação. O dado faz parte do conjunto que leva a essa reação”.

O problema das grandes cidades brasileiras é imenso, na opinião do antropólogo, e as maiores vítimas são os empregados domésticos, os que têm empregos marginais, explica. “O óbvio é que os vulneráveis fiquem mais expostos, mas o que espanta é que não só eles estão sendo afetados, mas as classes média e alta também. Prova é que o maior desafiador do vírus, o presidente da república, com sua rebeldia burra, ficou doente. O princípio do velho Freud: é aquilo que você não espera que aconteça com você, mas pode acontecer com todo mundo”, finalizou.