A desigualdade social é sempre tema das eleições, é comum discursos que a naturalizem e a apresentem como uma questão histórica que temos que conviver e não como uma construção histórica que pode ser revertida por meio de políticas públicas e com a responsabilização do Estado em prover dignidade para todos e todas. A cada pleito, principalmente os municipais, as mazelas da sociedade como: violência, criminalidade e falta saúde são vistas oriundas da desigualdade, mas poucos candidatos(as) veem a desigualdade social como consequência.
Para os políticos liberais basta fortalecer a economia e no máximo atuar junto às parcelas mais vulneráveis atenuando seu empobrecimento com políticas compensatórias que jamais ameassem a lógica do lucro e da exploração. Esse pensamento se fortaleceu após as eleições de Bolsonaro e se atenuam nas cidades em todo o Brasil. Mesmo com a crescente desigualdade no país, o desgoverno de Bolsonaro teve sua melhor aprovação desde o início do mandato, justamente, em meio a primeira grande crise sanitária do século e diante de uma grande crise econômica. O crescimento da popularidade de Bolsonaro não leva em conta seus discursos contra o isolamento social, a favor da cloroquina, os inúmeros casos de corrupção e nem a ingerência do país, que continua sem ministro da saúde. A sua aprovação acontece pela implementação do auxílio emergencial, mesmo que esse seja fruto de uma articulação da oposição no congresso. O fato é que Bolsonaro se beneficia disso, assim como também se beneficia das atitudes de prefeitos e governadores para o controle da Covid-19 pelo país.
Os candidatos e candidatas a prefeitos(as) e vereadores(as) que apoiam o desgoverno tratam a desigualdade como acesso a renda, mas não levam em conta o acúmulo de riquezas e propriedades, assim como vivem o paradoxo de discursar pelo fim da pobreza mas adotar políticas neoliberais que aprofundam ainda mais as diferenças sociais na sociedade. O mesmo paradoxo é vivido pelo governo que ao mesmo tempo que perdeu o apoio da classe média “lavajatista” e tenta recuperá-la por meio das políticas de Guedes, tenta também apoio das camadas mais pobres por meio políticas emergenciais que não atingirão a mesma quantidade de pessoas que a primeira leva do auxílio emergencial.
Diferente dos políticos liberais, os candidatos com um real compromisso com o povo reconhecem o papel do Estado e da formulação de políticas públicas e acesso aos direitos básicos, melhores salários, construção dos bens comuns e combate a todo o tipo de opressão. Se discursos como “As políticas sociais não cabem no orçamento público” prevalecerem, o combate a desigualdade social jamais será real e ao invés da construção de políticas públicas, será presente a construção de políticas de acumulação que favorecerá apenas uma elite.
O desafio das eleições municipais é possibilitar uma democracia, com um novo desenho institucional, construído com a participação cidadã e inclusão social. As cidades de todo o Brasil precisam eleger representantes que efetivem a plena cidadania, ou seja, ter condições de escolher, efetivar essa escolha e se beneficiar dessa escolha e assim construir cidades democráticas. É preciso ficar atento não só em quem são seus candidatos mas sim a qual projeto representam e que futuro queremos para nossas cidades.