Governo tenta votos para restaurar veto a aumento de servidores na Câmara

Ricardo Barros, líder do governo, tenta reverter derrota - Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

Bolsonaro criticou nesta quinta-feira, 20, a derrubada pelo Senado de veto ao congelamento dos salários no serviço público até o final do ano que vem e disse que será “impossível governar o Brasil” caso a Câmara não reverta a decisão dos senadores. Numa só declaração, o presidente da república assume o velho discurso de que funcionário público custa caro e não produz, ou seja, o “vagabundo” dos tempos de Fernando Henrique Cardoso volta à berlinda. O custo dos reajustes salariais é estimado em 120 bilhões de reais, rotulados por Bolsonaro como “prejuízo”:

“Ontem o Senado derrubou um veto que vai dar prejuízo de R$ 120 bilhões para o Brasil. Então eu não posso governar um país… Se esse veto (não) for mantido na Câmara, é impossível governar o Brasil, impossível. É responsabilidade de todo mundo ajudar o Brasil a sair do buraco”, disse o presidente a apoiadores, ao sair do Palácio da Alvorada.

Apesar dos esforços de aliados do governo, o Senado votou nesta quarta-feira, 19, pela derrubada do veto. A votação do Senado precisa ser confirmada pela Câmara e a equipe econômica trabalha para que deputados garantam o congelamento dos reajustes. A questão é que em novembro haverá eleições para prefeitos e vereadores no país inteiro e anunciar congelamento de salários no serviço público não rende votos; ao contrário, subtrai.

O próprio Bolsonaro chegou a apoiar a brecha para os servidores quando o projeto estava em discussão no Congresso. Após críticas, ele recuou e seguiu orientação do ministro Paulo Guedes, da Economia, que não nutre qualquer apreço ou afeição por funcionário público e defende a privatização de todos os serviços. Os Correios são a bola da vez.

No primeiro semestre do ano, Guedes negociou com o Congresso um pacote de socorro financeiro a estados e municípios, da ordem de R$ 120 bilhões, por causa da crise causada pela pandemia da Covid-19. Como contrapartida, o Ministério da Economia pediu que os salários de servidores públicos fossem congelados até o fim do próximo ano. Isso seria, segundo integrantes do governo, uma forma de a renda do funcionalismo também ser atingido pela pandemia, já que trabalhadores da iniciativa privada perderam emprego ou tiveram o salário cortado.

Mas, com a chancela de Bolsonaro, o então líder do governo na Câmara, major Vitor Hugo (PSL-GO), articulou um brecha para poupar corporações do congelamento salarial. Entre as categorias beneficiadas estavam civis e militares, como professores, médicos, enfermeiros, profissionais de limpeza urbana, agentes funerários, policiais e as Forças Armadas. A tentativa não deu certo por pressão da equipe econômica.

Guedes espera que o novo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), consiga convencer a maioria dos deputados a manterem o veto, ou seja, impedir reajustes salariais às categorias listadas, como médicos e professores. São necessários 257 votos para que um veto seja derrubado na Câmara, que tem 513 deputados.