Estrangeiros testam vacinas em brasileiros infectados por Covid-19

O Albert Einstein é um dos parceiros nas pesquisas estrangeiras no Brasil - Reprodução da TV

Do limão vem a limonada: já que o Brasil não combate a pandemia do novo coronavírus  como a Organização Mundial de Saúde recomenda, pelo menos seus cidadãos infectados servem de material para testagem de vacinas e possíveis medicamentos para a doença. Um dos epicentros mundiais da pandemia, com um cenário prolongado de alto número de casos e mortes, cresce a cada dia o interesse de pesquisadores estrangeiros e empresas farmacêuticas multinacionais em nos incluir em seus ensaios clínicos. Dos 33 estudos de medicamentos ou vacinas para Covid-19 já autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 21 são internacionais.

As pesquisas que passam pela Anvisa são as que sinalizam perspectiva de registro comercial após os testes. Os demais estudos, com fins exclusivamente acadêmicos ou científicos, passam apenas pelo aval da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), que precisa autorizar qualquer pesquisa feita com seres humanos no país. Os dados da Conep também mostram aumento no número de testes internacionais. Dos 178 ensaios clínicos autorizados até hoje, cerca de 30 são financiados por instituições estrangeiras. Em junho, eram apenas dez.

Como asiáticos e europeus viveram antes o pico da pandemia, Brasil e Estados Unidos, que ainda registram número expressivo de infecções, tornaram-se os principais locais de estudo de possíveis tratamentos e imunizantes. Entre os remédios em testes há tanto drogas já registradas para outras patologias, mas que podem ser úteis contra a Covid-19 quanto moléculas novas desenvolvidas exclusivamente para enfrentar a doença.

O complexo do Hospital das Clínicas, ligado à Universidade de São Paulo (USP), participa de ao menos cinco testes clínicos internacionais de medicamentos, como os das drogas tocilizumabe (Roche) e otilimabe (Glaxo), ambas originalmente indicadas para tratar artrite reumatoide, mas que também são investigadas por possíveis benefícios contra a “tempestade inflamatória” causada pelo coronavírus.

Além dos medicamentos já registrados para outras doenças que são investigados para Covid-19, há ainda moléculas novas sendo pesquisadas, como remédios desenvolvidos pelas farmacêuticas Merck e PTC para reduzir a gravidade da doença em pacientes com pneumonia ocasionada pelo novo coronavírus. Dos 21 estudos internacionais de tratamentos que estão sendo feitos no Brasil, sete estão na fase 3, a última antes do registro.