O cantor católico abençoado com a cadeira de Witzel no Palácio Guanabara

O vice-governador Cláudio Castro deve assumir o Guanabara - Foto Carlos Magno

Querido pelos deputados fluminenses, o vice-governador Cláudio Castro já vinha se preparando para assumir o Palácio Guanabara, tem até uma composição do seu secretariado, com direito a duas pastas para indicados pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Em outra frente, Cláudio passou a se blindar para eventuais operações, como a de busca e apreensão que foi deflagrada hoje, 28, contra ele e outros 72 alvos, suspeitos de envolvimento nos desvios na Saúde durante a pandemia. Contratou, por exemplo, um contador, a fim de ajustar possíveis brechas nas suas declarações de renda. Cláudio já assume a cadeira do Palácio Guanabara, tida como “tóxica”, sob pressão. Depois dele, na linha sucessória, vem o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), também alvo de buscas e apreensões na manhã desta sexta-feira.

Cláudio Castro é cantor católico com dois discos solo lançados. Antes disso, integrava a banda “Em Nome do Pai”. É fácil achar vídeos – que até hoje são postados em seu canal no YouTube – nos quais o vice exibe a voz. Num dos clipes mais recentes, ajoelha-se diante do Cristo Redentor.

Na política, antes de compor a chapa do ex-juiz, Cláudio era vereador de primeiro mandato no Rio e tinha trabalhado como chefe de gabinete na Assembleia Legislativa. Chegou à parceria com o atual governador por acaso. O PSC, partido de ambos, não conseguiu compor aliança com outras legendas para a eleição e acabou levando à indicação de um nome interno para a função de vice: Cláudio Castro.

O cantor católico assumiu como missão no início do governo lidar com órgãos como o Detran, um dos mais conhecidos pelos esquemas de corrupção dos anos anteriores no Rio. O Departamento de Trânsito é um dos que tinham, até hoje, forte influência do Pastor Everaldo, presidente nacional do PSC.

Durante a pandemia do coronavírus, Cláudio vinha coordenando um mutirão de distribuição de cestas básicas, até que foi escalado para socorrer Witzel ameaçado de impeachment na Alerj, por causa de sua boa interlocução com a classe política. Apesar de os pedidos de afastamento terem como base jurídica a operação Placebo, que atingiu o governador após indícios de corrupção na Saúde em plena pandemia, a tentativa de tirar Witzel do cargo também carrega forte conteúdo político.

Cláudio foi chefe de gabinete de Márcio Pacheco (PSC), com quem também já dividiu os palcos de shows. Líder do governo na Alerj até pouco depois da operação Placebo, o deputado foi denunciado há dois meses no âmbito das investigações sobre “rachadinha”, numa apuração parecida com a que atinge Flávio Bolsonaro.

Assim como Witzel, Cláudio não nasceu em terras fluminenses. É de Santos, no litoral paulista, e veio para o Rio ainda criança. Entre os que o acompanham no trabalho, é tido como conciliador. Nas agendas públicas do governador, está sempre presente, mas pouco fala.

Há uma grande preocupação, entre aliados, em evitar que ele seja acusado de traição. Cláudio, dizem interlocutores, jamais imaginava que poderia assumir tão cedo o governo. O horizonte mais próximo, na sua avaliação, seria a eleição de 2022, caso Witzel concorresse à presidência da república.

A abertura ao diálogo é um elogio feito por aliados de diferentes esferas, como prefeitos do interior que precisam de interlocução com o governo e também parlamentares. Ambos os grupos reclamam da dificuldade de conversar com Witzel e classificam Cláudio como uma espécie de antítese dele. “Sabe conversar e aprimorar ideias, sabe o lugar que ocupa”, comenta um prefeito, referindo-se ao fato de o governador ter se perdido no cargo. “Witzel está sendo vítima de si mesmo.”

No curto período como vereador, o vice tinha bom trânsito entre políticos de diferentes visões ideológicas. Entre os projetos apresentados, orgulha-se do que destina 10% da arrecadação das multas de trânsito para pessoas com deficiência. Convicto de que ele e Witzel não seriam eleitos para o governo, Cláudio caiu na gargalhada quando o resultado da apuração do pleito de 2018 começou a aparecer na televisão.