Digite em sites de busca “comunidade de Rio das Pedras RJ”, e o que mais vai aparecer são notícias sobre milícias. É como se a comunidade da zona oeste do Rio de Janeiro se resumisse apenas a esse assunto, quando na verdade existe uma diversidade de informações. Em Rio das Pedras também tem arte, cultura, projetos sociais, coletivos e portais de comunicação independentes criados por moradores. Durante a pandemia, esses portais têm sido de extrema importância para difundir informações sobre saúde e outras ações na comunidade.
Através deles, os moradores podem cobrar ações e melhorias por conta da ausência do poder público. Com notícias sobre a comunidade e o comércio local desde 2016, o “Portal RP” teve sua maior atuação e divulgação no final de 2019. A equipe é formada por jornalistas de Rio das Pedras, com o objetivo de informar a população. Para Erika Alves, coordenadora e produtora cultural do “Portal RP”, o projeto é parte da comunidade, além de ser uma ferramenta importante onde os moradores podem se expressar. “É um projeto que eu acredito, que se for para dedicar 20 ou 50 anos, eu vou continuar dedicando a minha energia porque é algo que pode fazer uma transformação social. Eu acredito nisso”, afirma.
Desde o início da pandemia, o portal fez campanhas informativas, reuniões com a clínica da família e vídeos com lideranças locais para ajudar na conscientização sobre os riscos da Covid-19. “O Portal tem um papel importante, que é criar campanhas para que as pessoas continuem tendo cuidado ao sair de casa, usando máscaras e álcool em gel para preservação da vida, evitando que essa pandemia se arraste por mais tempo”, explica Erika.
O “Coletivo Conexões Periféricas”, formado por jovens que são “crias” da comunidade, atua desde 2018 em Rio das Pedras oferecendo atividades de arte, cultura e educação. Douglas Heliodoro, professor na rede municipal carioca e membro fundador do “Conexões Periféricas”, conta que durante a pandemia o coletivo percebeu a necessidade de se comunicar com a favela e tentar orientar em relação aos cuidados contra o coronavírus. “Observando o movimento na favela, as pessoas ignorando as orientações, mesmo tendo que trabalhar, mas não tomando nenhum cuidado, surgiu a ideia de fazer lives com profissionais da área de saúde”, explica.
As lives, que são transmitidas na página do “Conexões Periféricas” no Facebook, tiveram início com temas centrais sobre cuidados durante a pandemia, fake news relacionadas a questões da Covid-19 e comunicação popular. Atualmente o conteúdo vai desde políticas públicas, direitos humanos, arte, cultura até educação. Para Douglas, a página tem sido um espaço importante de articulação e atuação dentro da favela. “A comunicação popular feita por coletivos locais é fundamental para de fato estabelecer um diálogo mais frutífero com a comunidade”.
Um dos projetos mais recentes na comunidade é a “Agência Lume”, uma agência de comunicação popular e independente, criada pela jornalista Fernanda Calé e o publicitário Douglas Teixeira. A agência conta com uma equipe formada por estudantes de jornalismo, todos moradores de Rio das Pedras, jovens que buscam melhorias na área em que moram através da comunicação.
A “Lume” nasceu da vontade de fazer jornalismo de qualidade e ético dentro de Rio das Pedras, desmentindo fake news e informando a população de maneira clara e objetiva. Com menos de dois meses de trabalho jornalístico, a “Lume” já conseguiu cobrar as autoridades para fazer limpeza de um galeria entupida que estava causando alagamento na pista e ação para fechar buracos em uma das principais avenidas da comunidade.
Fernanda Calé explica que um canal de informação sério e responsável, que tem diálogo fácil dentro da comunidade, que escreve e fala a linguagem mais popular, faz com que os moradores entendam questões que muitas vezes não são explicadas na grande mídia. “Às vezes parece pouca coisa, mas uma notícia que é dada corretamente nos dias atuais em que a gente enfrenta esse problema tão grande da desinformação, essa notícia pode sim salvar e mudar a vida de algumas pessoas”, completa a jornalista.
Fernanda também comenta sobre a importância de ter coletivos de informação em contato direto com os moradores. “A gente sabe que o dia-a-dia da população na comunidade é corrido, as pessoas precisam trabalhar e nem sempre têm tempo para estar se dedicando a debater certas pautas, principalmente quando não é uma pauta ligada diretamente à realidade delas. Então, esses coletivos vêm trazer o debate, a troca de ideias e isso é muito importante”.
Esta matéria foi produzida com apoio do Fundo de Auxílio Emergencial ao Jornalismo do Google News Initiative.
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