“Quero minha mãe”, essa foi a última frase dita por Herinaldo Vinícius Santana, de 11 anos, há exatos cinco anos. Na tarde de 23 de setembro de 2015, ele estava indo correndo comprar uma bolinha de pingue-pongue quando levou um tiro no Parque Alegria, no Complexo do Caju, no Rio de Janeiro.
Na época, uma amiga do menino afirmou que dois policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Caju faziam patrulhamento em um beco na favela e teriam se assustado com a criança, que estava correndo, e atirado contra ele.
O menino morreu na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da favela da Maré, às 16h30, trinta minutos após dar entrada na unidade.
De acordo com o laudo do Instituto Médico Legal (IML), Herinaldo tinha três ferimentos de estilhaços de um projétil de fuzil. Segundo o perito legista Leví Inimá de Miranda, o disparo atingiu uma superfície sólida e ricocheteou, perfurando o peito e também em duas partes da coxa direita de Herinaldo.
Após o crime, cinco policiais militares da UPP do Caju foram afastados, um inquérito instaurado e a Divisão de Homicídios da Polícia Civil passou a investigar o caso. A Agência de Notícias das Favelas entrou em contato com a assessoria de imprensa da Polícia Civil para obter informações sobre a investigação, porém, até o momento da publicação desta matéria, não obtivemos resposta.
20 de fevereiro de 2015
“A gente estava só brincando, senhor”, foi a última frase dita por Alan de Souza Lima, 15 anos, morto pela polícia na favela da Palmeirinha, em Honório Gurgel, zona norte do Rio de Janeiro. Alan estava brincando com os amigos.
2 de abril de 2016
“Mamãe, estou com medo de ficar aqui. Vamos embora?”, foi a última frase de Matheus Santos Morais, 5 anos, também morto em uma ação policial em Magé, Baixada Fluminense, Rio de Janeiro.
Crimes contra negros e crianças
Herinaldo, Matheus e Alan fazem parte de estatísticas que só aumentam. De acordo com relatório da plataforma “Fogo Cruzado”, o número de crianças mortas por arma de fogo aumentou 150%, comparando os quatro primeiros meses de 2020 com os de 2019. Durante os quatro meses de quarentena, cinco crianças morreram e duas ficaram feridas. No mesmo período de 2019, foram duas crianças mortas.
Os três meninos também fazem parte de outra triste estatística. Em um levantamento de 2019, publicado este ano pelo Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ), revela que pretos e pardos representam 78% dos mortos por intervenção policial no Rio de Janeiro. Ao todo 1.814 pessoas morreram em ações policiais em 2019, desse número, 1.423 eram pretas ou pardas.
Nas redes sociais, os nomes das vítimas da violência do Estado são constantemente lembrados. O perfil no Twitter @lilxmars relembrou: “João Pedro, Lucas, Ágatha, Carlos Magno de Oliveira, Everson Gonçalves Silote, Herinaldo Vinicius de Santana, Alan Souza Lima, Douglas Rodrigues, Matheus Santos de Morais, Jean Rodrigo da Silva, Fabio dos Santos Viera, Marielle Franco. Todos esses e outros milhares que morrem por causa de um sistema opressor e genocida do povo preto precisam ser lembrados. São vítimas do racismo, desigualdade e opressão. Todos estão presentes!”.
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