A Covid-19 traz um risco de morte maior para as pessoas com 60 anos ou mais em Sergipe, segundo dados do boletim epidemiológico do coronavírus da Secretaria de Estado da Saúde (SES). Apesar de apenas 13,5% dos casos de contágio no estado serem em pessoas dessa faixa etária, 70,4% dos óbitos estão concentrados nos idosos.
Avaliando o risco de morte por faixa etária (ver gráfico abaixo), constata-se que a cada década, excluindo a faixa pediátrica, esse risco vai aumentando, chegando a mais de 27% nas pessoas com mais de 80 anos.
O medo de ser contaminado com o coronavírus e entrar para essa estatística mudou a rotina de muitos idosos. É o caso da moradora do bairro Veneza II, Maria Alexandrina Romão, 70, que antes da pandemia da Covid-19 costumava ir até a casa da mãe, de 92 anos, no bairro Novo Paraíso. “Passei a não receber ninguém na minha casa. Meus filhos têm medo de pegar Covid-19 e transmitir para mim. Eu e meu neto ficamos em casa. Sempre lavo as mãos, deixo minha casa limpa, uso álcool em gel e máscara. Inclusive tenho mais de 10 máscaras”, relata.
Cleverton Santos Rodrigues, 19, é o neto que vive com Maria Alexandrina. Ele se preocupa mais em passar o coronavírus para a avó do que ser contaminado. “Eu tenho medo de pegar essa doença. Se eu testar positivo, não vou para casa da minha mãe porque tem muitas pessoas lá. Eu me isolaria no quarto”, afirma.
O casal José dos Santos, 64, e Valdilene Pereira Rodrigues, 57, moradores do povoado Campestre, em Riachão do Dantas, continuaram a trabalhar na roça mesmo com a pandemia, mas pararam de visitar os filhos e netos em Aracaju. José explica que passou a se prevenir mais, ficar em casa, usar máscara e cumprir as normas de biossegurança. “Eu tive muito medo de testar positivo para a Covid-19 porque via na televisão os caixões das pessoas mortas. Sofri bastante, tenho muitas preocupações, passei momentos difíceis. Eu ainda tenho medo, sei que a doença existe, porém estou tentando prevenir”, comenta.
A psicóloga Isadora Lacerda diz que o isolamento social trouxe impactos para todos, incluindo os idosos que já se sentiam solitários antes da pandemia devido ao avanço da idade. “Com o isolamento vieram o medo, a ansiedade e um aumento do sentimento de solidão. Tudo isso gera um estresse muito grande e se não for logo cuidado, pode levar a uma depressão”, enfatiza.
Retomada da economia e saúde dos idosos
De acordo com o médico infectologista e diretor de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe (SES), Marco Aurélio de Oliveira Góes, a retomada da economia pode influenciar na saúde dos idosos. Além disso, ele afirma que a pandemia não acabou e, pelo contrário, o coronavírus continua circulando. “Se não forem respeitadas as normas de biossegurança e de lotação dos espaços, a transmissão do coronavírus pode voltar a aumentar, principalmente para a população de idosos que estava protegida”, explica.
A aracajuana Josefa Gomes Santos, 67, é uma dessas idosas que estava protegida em casa no início da pandemia. Ela ficou dois meses sem sair de casa, entretanto agora vai para a igreja católica da comunidade Veneza II usando máscara e álcool em gel. “Eu vi passar na televisão médicos e enfermeiras morrendo mesmo com todos os cuidados. Não recebia visitas de nenhum parente, nada de abraços e apertos de mão. Todos os dias eu rezava o terço, via duas ou três missas televisionadas e tinha várias conversas com Deus”, conta.
Medidas de prevenção de contágio da Covid-19
A retomada da economia pode dar a sensação de que há uma liberação para os idosos, entretanto não é essa a realidade. Portanto, igrejas, comércios e possíveis locais frequentados pelos idosos devem seguir as normas e protocolos sanitários para evitar o aumento do adoecimento das pessoas com mais de 60 anos.
A Secretaria de Estado da Saúde (SES) recomenda aos idosos ações de distanciamento social, proteção individual e coletiva. Ademais, o idoso deve manter o controle das doenças que possui, como diabetes e hipertensão arterial, pois essas doenças descompensadas podem aumentar o risco de complicações. O idoso que apresentar sintomas respiratórios suspeitos de Covid-19 deve procurar o serviço de saúde para ser avaliado e não esperar ter piora ou falta de ar.
Vale ressaltar que não adianta somente o idoso se cuidar, mas também os familiares e pessoas que convivem com ele. Todos devem tomar medidas. Por isso é importante que a sociedade se proteja para que se consiga diminuir a transmissão do novo coronavírus de forma sustentada.
Esta matéria foi produzida com apoio do Fundo de Auxílio Emergencial ao Jornalismo do Google News Initiative