Dados divulgados nesta quarta-feira, 9, pela Rede de Observatórios da Segurança, revela que 96,9% das pessoas assassinadas pela Polícia Militar da Bahia, em 2019, eram negras.
“A política de guerra às drogas, instituída pelo Estado brasileiro, é um dos fatores que contribuem para a autorização do cerceamento de vidas negras”, comenta Dudu Ribeiro, coordenador da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, e co-fundador da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas (INNPD).
De acordo com o levantamento anual, das 489 vítimas por intervenção policial identificadas, 474 eram pretas ou pardas.
Para Dudu Ribeiro, que também é historiador, “a política de guerra às drogas talvez seja o conjunto mais sofisticado que permite a produção de morte, o altíssimo encarceramento e a estigmatização da população negra, a partir de um conjunto de ideias que estão presentes e são constantemente reproduzidas às diversas instituições, não apenas ligadas à segurança pública, mas muitas vezes nas instituições ligadas à saúde”.
A política de guerra às drogas é ineficaz e acaba atingindo pessoas negras que não fazem parte do ciclo de consumo e venda de produtos ilícitos, impactando também a vida de suas famílias.
Nas operações policiais, moradores denunciam principalmente a truculência dos agentes com crianças e adolescentes. Outras reclamações se referem a privação do direito de ir e vir.
“O racismo é o motor da violência no Brasil, mesmo quando não pronunciado. Porque, muitas vezes, os dados oficiais negligenciam o quesito raça, e continua majoritariamente presente a demonstração da sofisticação do racismo brasileiro, que consegue estar presente, ainda que não pronunciado”, comenta Dudu Ribeiro.
A Polícia Militar da Bahia foi criada em 1825, pelo então imperador Dom Pedro I para conter “atos de indisciplina”, como a corporação descreve em seu site oficial.
A política de proteção da propriedade e dos interesses do Estado, muitas vezes não trata da garantia da segurança pública para as pessoas. O que representa números absurdos de assassinatos de pessoas negras na Bahia.
Além da Bahia, a organização analisa dados de outros quatro estados: Ceará (87,1% de negros assassinados pela PM), Pernambuco (93,2%), Rio de Janeiro (86%) e São Paulo (62,8%).
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