Nos anos de 2019 e 2020, na lista de “Como fazer” do Google, um mesmo questionamento foi um dos mais pesquisados. “Como fazer que as pessoas gostem de mim?”, figurou a terceira posição em 2019 e obteve uma leve queda em 2020, quando passou a ocupar o sexto lugar.
De acordo com as informações coletadas pela plataforma Google Trends, em 2020 o pico de pessoas pesquisando sobre o assunto, aconteceu no início do ano entre os dias 12 e 18 de janeiro. No entanto, o assunto continuou provocando a atenção e criou-se uma constância de pesquisas com a pergunta: Como fazer que as pessoas gostem de mim.
Em 2019, o pico das pesquisas sobre o assunto aconteceu no final do ano, entre os dias 8 e 14 de dezembro. Diferentemente de 2020, entre janeiro e fevereiro de 2019, não havia resultados de pesquisas para a questão. A pergunta só foi aparecer entre os dias 3 e 9 de março de 2019.
Em ambos os anos, estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste apareceram entre os cinco onde mais pessoas procuravam respostas para a questão. Em 2019 figuravam as posições:
- Maranhão
- Ceará
- Goiás
- Mato Grosso
- Rio Grande do Norte
Em 2020 passaram a ser:
- Alagoas
- Mato Grosso
- Sergipe
- Pará
- Tocantins
Necessidade de aceitação nas redes
Em pesquisa realizada pela instituição de saúde pública do Reino Unido, Royal Society for Public Health (RSPH), em parceria com o Movimento de Saúde Jovem, foi indicado que as redes sociais que mais afetam os jovens, de maneira negativa, são o Instagram e Snapchat.
As duas são as que mais mexem com o sentido de imagem e sociabilidade. Elas podem, inclusive, ter algum tipo de relação com o fator da pergunta “Como fazer que as pessoas gostem de mim” esteja tão bem colocada nas pesquisas do Google, no Brasil.
Matheus Coutinho, de 24 anos, psicólogo e psicanalista, explica que essa necessidade de aceitação e o desejo de ser amado existe, primeiramente, de uma característica do ser humano. “Na nossa construção enquanto sujeito, a gente se constitui a partir de um outro, que em um primeiro momento são os pais e depois passa a ser a sociedade como um todo. A partir daí surge essa necessidade de ser aceito pelos outros”, explica.
No entanto, fazer com que as pessoas gostem de outras esbarra, com o passar dos anos, no querer próprio e na vontade do outro. Segundo Coutinho, a mudança de ideais, de opiniões e de pensares pode fazer com que a pessoa passe a sentir falta de um amparo e a pergunta “Como fazer que as pessoas gostem de mim”, pode surgir.
“A necessidade de fazer parte, surge, principalmente, nesses últimos anos que as redes sociais se transformaram em uma extensão da pessoa. Saber o limite disso é fundamental para não sacrificar o próprio ‘eu’ em função do outro”, salienta o psicólogo.
Espelhamento e singularidade
No Brasil, ainda não há uma grande quantidade de estudos que analisam a usabilidade das redes sociais aliada a problemas de saúde. No entanto, uma atitude tomada pelo próprio Instagram revelou a necessidade de se estar atento ao quanto a opinião do outro pode afetar. “Quando o Instagram passou a deixar invisível a quantidade de curtidas que cada pessoa tem em uma foto, isso foi um avanço. A questão da quantidade de likes agrega muito nessa relação das pessoas se sentirem menos amadas que outras”, pontua Coutinho.
O psicólogo alega ainda que na rede social as pessoas passam a se espelhar ainda mais nas outras e em uma realidade distante da vivida. “Elas tentam se espelhar em algo que não tem muita conexão com seu ‘eu’, com seu corpo e sua personalidade. É um espelhamento que acaba não tendo uma consistência e isso faz a auto estima da pessoa balançar”, afirma.
Para além do físico, a questão do “fazer que as pessoas gostem de outras” passa também pelos ideais e opiniões. Segundo Coutinho, essas influências podem seguir até quando se busca a solução de um problema, que é único da pessoa, mas que ela vai encontrar respostas na vivência de outra. De acordo com o psicólogo essa identificação é natural, mas, ela passa a ser prejudicial quando o desejo do outro se sobrepõe ao da própria pessoa.
“As pessoas que buscam no Google ‘Como fazer que as pessoas gostem de mim’, estão procurando ser amadas da maneira que o outro se comporta. E isso faz com que ela deixe de lado sua autenticidade e em algum momento a vida reclama e a pessoa pode acabar adoecendo. E é importante que as pessoas procurem a psicoterapia para entrarem em contato novamente com seu próprio desejo”, completa.
Como proteger sua saúde mental nas redes sociais?
Em uma pesquisa realizada pela Associação de Psiquiatras Americana, nos Estados Unidos, foi revelado que apenas 5% dos adultos participantes do estudo consideraram as redes sociais positivas para a saúde mental. Pensando nisso, a psicóloga, Jelena Kecmanovic, listou para o The Conversation, seis dicas para proteger a mente nas redes sociais.
- Limite quando e onde utilizar os serviços: para que as redes não interfiram nos relacionamentos pessoais, é importante deixá-las de lado quando estiver em grupo ou com mais uma outra pessoa. Dar atenção ao momento que está sendo vivido ao invés do que está sendo postado.
- Tenha períodos de “detox”: Ficar alguns dias sem usar as redes, pode ser um fator benéfico para diminuir o estresse e também ver o mundo por outro ângulo.
- Preste atenção no que faz e em como se sente: Ao utilizar as redes, comece a perceber como as usa e o faz nelas.
- Seja consciente e pergunte o porquê das coisas: É preciso ser honesto com si mesmo e perguntar as reais motivações para estar utilizando certa rede social em um dado momento.
- Faça uma limpa: Veja de tempos em tempos se as pessoas e assuntos que segue ainda são de seu interesse. Caso não seja, não fique acanhado em parar de seguir ou desfazer amizade.
- Não deixe que as redes sociais substituam a vida real: Não deixe de acompanhar algum acontecimento, ou um fator marcante em sua vida ou na vida de seus amigos e parentes só porque vê nas redes sociais. A presença física ainda significa muito.
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