Flávio Dilascio, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO –

Moradores
do Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, afirmaram ontem que resistirão
à iniciativa da prefeitura de transferir toda a comunidade para a área
antes ocupada pelo presídio Frei Caneca, no Estácio. Eles alegam que
nem todas as partes da favela oferecem risco e que vários imóveis
interditados pela Defesa Civil nos últimos dias seriam seguros. O Morro
dos Prazeres foi uma das áreas mais atingidas pelas fortes chuvas da
semana passada, com 30 mortes registradas até a noite de ontem.


Estão fazendo tudo de uma forma errada, pois nem a Defesa Civil nem a
Geo-Rio vistoriaram os imóveis que vêm recebendo ordem de
desapropriação. Como podem saber se uma casa está em uma área de risco
se não fizeram uma análise dela e de suas cercanias? – critica a
presidente da Associação dos Moradores do Morro dos Prazeres, Eliza
Brandão da Silva.

Segundo
a Secretaria Municipal de Habitação, oito comunidades começarão a ser
retiradas a partir desta semana, começando pelo Morro do Urubu, onde a
situação é considerada a mais crítica de todas. Todos os moradores
reassentados receberão aluguel social de R$ 400 até resolverem seus
problemas de moradia. O valor, entretanto, não agrada grande parte das
famílias.


Onde vamos morar até o conjunto habitacional do Frei Caneca ficar
pronto, o que deve levar uns dois anos? Enquanto isso, vamos ter de
viver com essa quantia irrisória em algum local alugado? Há cerca de
dois anos, uma família daqui perdeu dois de seus membros num
desmoronamento. Receberam esse aluguel social da prefeitura para morar
em outro lugar e estão muito mal financeiramente – relata Eliza. – Tem
quatro anos que fazemos solicitações de obras de contenção à
prefeitura. Só depois de uma tragédia que eles se mobilizaram –
completa.

Estratégia para permanecer

Para
lutar pelo direito de permanecer no local, a Associação dos Moradores
do Morro dos Prazeres conseguiu, junto à Defensoria Pública do
Município, uma equipe de arquitetos e engenheiros que irá hoje à
comunidade avaliar quais imóveis realmente estão em situação de perigo.
Em todo o complexo do Morro dos Prazeres (que engloba as favelas do
Escondidinho, Vila Elza e 42) moram cerca de 12 mil pessoas, segundo a
associação.


Contestamos muito essas interdições de agora, pois recebemos anos de
obras do Favela-Bairro. No meu caso, por exemplo, tive que pegar o
documento de desapropriação sem sequer terem ido à minha casa – diz a
assistente social Zoraide Gomes, há 28 anos no Morro dos Prazeres.

Alguns moradores estão revoltados por causa do alto investimento feito em suas casas.


Deveriam fazer uma avaliação imobiliária antes de nos retirar. Minha
casa vale pelo menos uns R$ 20 mil, e eu nunca teria retorno pelo meu
investimento se fosse colocada em uma moradia da prefeitura – afirma a
recepcionista Josilene Alves, 32 anos, que mora com o marido e a filha.
– Temo ainda não ser realocada em lugar algum, pois até agora não nos
avisaram sobre o nosso destino – finaliza.