Água e Óleo. Sol e Peneira. Essas máximas são cada vez mais evidentes entre as instituições repressivas e os pobres.

Depois que o comandante em chefe dos capitães do mato ( primeiro modelo de polícia no Brasil ), Domingos Jorge Velho matou Zumbi dos Palmares, o governador de Pernambuco, Caetano de Melo e Castro, faz o primeiro projeto para o setor de segurança pública. O propósito, do projeto, era aproximar os capitães do mato, com os que sobraram, após a matança que destruiu Palmares.

Criou então, o CDMC ( capitães do mato comunitário ).

Dá  para imaginar, o inusitado relacionamento entre os representantes do governo, e os heróicos negros remanescentes nas ruas:

– Olá! Como vai?

– Eu vou indo, e você? Tudo Bem?

Saber que no meio daquele grupo, encontravam-se os que haviam matado seus pais, seus irmãos, e amigos vizinhos de Mocambos nos Quilombos. 

Com o passar do tempo, o sistema criou um novo modelo. Os guardas noturnos. Uma espécie de agentes especiais, os quais auxiliavam no combate a violência. Eram caracterizados por usarem apitos justamente no meio da madrugada, quebrando o silêncio e claro, incomodando todo mundo. Não demorou muito para que no meio daquela instituição, aparecesse a figura do “justiceiro” mor. Na favela do Jacarezinho, surgiu um tal de Tião Meia Noite. Até a sombra do mesmo tinha medo de si própria. Não se sabia ao certo se aquilo era um agente de segurança, ou um bandido qualquer. A sociedade já viu esse filme! Como num passo de mágica, os guardas noturnos e o seu símbolo um galo, sumiram na escuridão da segurança pública. 

Vida que segue. O tempo não pára como já dizia o poeta Cazuza. As favelas cresceram. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, era preciso formular outro modelo que pudesse aproximar os negros e pobres da polícia. Criaram as duplas: Cosme e Damião. Estes eram vistos até nas procissões juntos às bandas que tocavam Ave Maria e Pai Nosso. Foi um Deus nos acudam! Desapareceram. Não sabemos se para cima, ou para baixo ( céu ou inferno ).    

E vamos que vamos! Veio o Exército! Tanques de guerra, caras pintadas, roupas camufladas, cravadas de bandeiras nos topos dos morros, granadas, fuzis, baionetas, sacos de areia, trincheiras, por fim, o aviso para atacar. Atacaram as crianças, os velhos, as mulheres, e os jovens. Invadiram os barracos e casas. No desfecho, mataram toda a dignidade, a qual heroicamente resistia. Quando já não havia mais nada, veio a ordem para partir em retirada. 

Chegou a vez do GEPAE ( Grupamento de Policiamento Para Áreas Especiais ). Esses “Especiais” aí, são as favelas. Uma das favelas que recebeu o Grupamento, foi a favela Pavão Pavãozinho em Copacabana.

Alguém perguntou: – é namoro ou amizade? O que se sabe, é que não deu em casamento. O romance acabou. Mas como sonhar não custa nada, sociólogos e muitos outros “ profissionais” que vivem da violência em busca da “paz”, projetaram as UPPs ( Unidade de Polícia Pacificadora). A revolução da política de segurança pública do Rio de Janeiro. A solução dos problemas de violência nas favelas cariocas como escreveu João Tancredo do Instituto de Defensores de Direitos humanos no jornal A Voz da Favela na página 5 no seu primeiro número. O mundo inteiro conhece o principal procedimento para que um casamento seja reconhecido e completo: O diálogo entre as partes. Não só entre os nubentes, mais com os seus pais e outros familiares. Ainda assim, sabemos que nem todo casamento, dura até que a morte os separe. No caso das UPPs, a morte pode até separar antes mesmo que o casamento se concretize. Afinal, água e óleo não se misturam e ninguém consegue tapar o sol com a peneira. 

Rumba Gabriel

Presidente de Honra do Movimento Popular de Favelas ( MPF ).