O assassinato de Hélio Barreira
Ribeiro, 46 anos, trabalhador de supermercado e morador do Morro do
Andaraí, atingido pelas costas por um tiro de fuzil, disparado por um
soldado do Bope, está nas páginas da imprensa do Rio. Hélio foi morto,
segundo a PM, porque a furadeira que empunhava foi "confundida" com uma
submetralhadora, e porque ele teria feito "movimento brusco". Lembramos
que, segundo o próprio coronel Mário Sérgio Duarte, ex-comandante do
Bope e atual comandante-geral da PM, a "tropa de elite" carioca tem na
entrada de seu quartel um painel que diz "cuidado com movimentos
bruscos". Ou seja, atirar sem pensar em quem faz "movimento brusco" não
é uma falha ou incompetência de policiais do Bope, é conseqüência do
treinamento da tropa.

O que não está na imprensa é que operações violentas do Bope no Andaraí
têm sido diárias desde que começou a se implantar a UPP (Unidade de
Polícia Pacificadora) no Morro do Borel, na Tijuca. Segundo a
Associação de Moradores do Andaraí, os policiais do Bope que estão
participando da ocupação do Borel, sob pretexto de perseguir
traficantes que estariam fugindo para outras favelas, chegam pelo alto
do morro, vindo do Borel e passando pela Casa Branca, colocando
moradores em risco. Essas operações já haviam sido denunciadas ao 6o
BPM, por conta de violações de domicílio e tiroteios.
O
que também não está na grande imprensa é que ontem mesmo, pouco antes
de Hélio ter sido atingido pelo Bope (às 9h na Rua Ferreira Pontes,
onde morava), dois jovens participantes do tráfico de drogas, Jonamir
Duarte dos Santos, 21 anos, e Adriano do Sacramento Silva, 24 anos,
haviam sido, segundo moradores, surpreendidos e rendidos por policiais
do 6o BPM, levados para um beco, e então executados. A maior parte da
grande imprensa simplesmente reproduz a versão dada pela polícia de que
os jovens "morreram em confronto", sem mencionar o testemunho de
moradores. A execução sumária de pessoas, sejam ou não envolvidas com
alguma atividade criminosa, é algo tão ou mais grave que as mortes
ditas "acidentais" de moradores das favelas, entretanto a grande
imprensa continua a banalizar esses "justiçamentos", como faz há anos.
Há uma ligação direta entre um fato e outro: se é admitido que a
polícia possa executar sumariamente criminosos ou suspeitos dentro de
uma favela, então a PM sente-se à vontade para atirar
indiscriminadamente contra moradores em geral, pois qualquer morte
resultante poderá ser justificada como "resultado de bala perdida em
confronto.

 

Tudo
indica que, no caso de Hélio, os policiais do Bope tentaram forjar a
mesma justificativa, pois ofenderam e intimidaram a sua esposa e
tentaram retirar a furadeira do local do crime. Entretanto, a reação da
viúva de Hélio, de seu filho e vizinhos foi imediata, registraram o
homicídio na 20a DP, onde o cabo do Bope que efetuou o disparo também
compareceu e saiu "escoltado" pelos colegas. A delegada Leila Goulart
disse que, provavelmente, o resultado do inquérito será o indiciamento
do cabo por homicídio doloso (com intenção de matar).
O
enterro dos dois jovens será hoje (quinta) às 11:30h no Cemitério do
Catumbi. Ainda não temos informações sobre o sepultamento de Hélio.
Amanhã (sexta), lideranças comunitárias do Andaraí e parentes de Hélio
e dos dois jovens comparecerão à Comissão de Diretos Humanos da Alerj
para tratar dos casos, e também das contínuas violações cometidas nas
favelas da região nas últimas semanas.



Mais informações com Cláudia, da Associação de Moradores (7854-6362).

FONTE: REDE DE COMUNIDADES E MOVIMENTOS CONTRA A VIOLÊNCIA