Lívia Passos Nascimento Cavalcante, 50, moradora de São Marcos, periferia de Salvador.
Ela é tem formação técnica em Enfermagem e se tornou Artista Plástica por intuição, na vivência com as unidades de saúde, principalmente onde trabalhava. Lívia também é colaboradora da ANF- Agência de Notícias das Favelas.
Desde 2016 Lívia trabalha com conscientização sobre coleta seletiva dos resíduos sólidos hospitalares.
Neste período o hospital estava mudando o processo de trabalho, deixando de usar o tecido de algodão cru, aderindo as embalagens de SMS (spunbond-meltblow-spunbond), um não tecido, 100% reciclável.
A atenção era quanto ao descarte, com este novo resíduo e a quantidade do volume, consequentemente o impacto ambiental negativo e os custos com o descarte.
Lívia Passos ressalta que nesta época os hospitais não tinham no bloco operatório coletores de resíduo reciclável apenas resíduo comum e infectante. Onde sempre acabava saindo tudo misturado e tento o mesmo destino, os coletores de resíduo infectante, resíduo caro, que passa por um tratamento(incineração), poluente ao meio ambiente.
E diante deste cenário ela visualizava ao longo dos anos o quanto nossas atividades dentro de um hospital contribuiriam para degradação da natureza.
Minhas primeiras obras foram para colocar no hospital público na qual ela trabalha, com a intenção de levar acalanto para as crianças da Pediatria e expor nas oficinas criativas que são realizadas nos hospitais e nas escolas publicas.
Início das produções
Lívia reuniu alguns colegas e começaram a separar os resíduos, simultaneamente o hospital lançou a 1ª Olimpíada de Saúde e Meio Ambiente com intuito de reduzir o resíduo comum e aumentar o resíduo reciclável, essa foi uma grande motivação.
Foram dias bate-papo, reuniões, palestra mas ainda era pouco pra motivar a equipe de trabalho foi então que surgiu a ideia de transformar aqueles resíduos em artesanatos.
Lívia conta que mesmo com poucas habilidades na costura, mas com muita vontade de fazer algo que fizessem as pessoas refletirem suas ações e escolhas dentro de suas atividades no hospital era muito importante, produziu bolsas, sacolas, nécessaire, porta-trecos, jarros, etc…
Ela foi provocada por uma colega em produzir algo que presenteasse quem cumprisse todas etapas da coleta seletiva passei a ter um olhar diferenciado para os resíduos recicláveis. Então foi feito um botton produzido com tampas dos frascos de medicação e as embalagens algo que posteriormente foi aderido pelo hospital. Surgiu o time verde!
As pessoas foram aprendendo a identificar, separar e descartar de forma correta os resíduos. Com a criação do botton varias tampas de tamanhos e cores diferentes foram recolhidas, não podia joga-las fora tinha que destinar corretamente.
Novas ideias e inspirações
Reutilizando o isopor das caixas de medicações, o frasco e as tampas. “Mostrei minhas composições para um artista plástico aqui em Salvador, ele me motivou a pintar, então reutilizando um isopor pintei minha primeira obra de arte”, comenta Lívia.
Lívia também conta que ficou muito surpresa com resultado, “nunca tinha pego em um pincel. Muitos colegas nem acreditaram que o suporte era um isopor, não era tela e tinta de tecido. A partir dai descobrir meu grande proposito e a forma de sensibilizar as pessoas”.
Toda produção era e é usada para despertar o cuidado com o meio ambiente, levantando a bandeira que a arte pode transformar, nos fazer refletir sobre nossa existência e ganhar renovadas e criativas direções sempre, tudo só depende das
escolhas e ações.
Lívia pinta em telas de tecido, mas tem preferência em trabalhar com o resíduo hospitalar reciclável reutilizando papel das sobras do teste do autoclave, pintando cartões, nas tampas das caixas de isopor que foram quebradas, nos rolos de papelões.
As inspirações estão ligadas ao cotidiano, nas historias populares, na religiosidade e no
sentimento. Com objetivo através da arte de levar informações, alegrias, despertar o olhar critico de uma sociedade consumista, aprender e falar sobre ancestralidade.
Ela não tenho ateliê, produz em casa, conta com ajuda de uma amiga na parte das costuras e um amigo na área administrativa no projeto, Revivart – Ressignificar com arte, criado para reunir todas as produções artísticas e oferecer oficinas.
Algumas obras são vendidas para captar recursos e manter as ações sociais que o projeto participa ou idealiza, já que não existe apoio do setor público nem privado. O material que utilizo vem principalmente dos hospitais que trabalho.
Exposição, oficinas e eventos
Lívia ministrou aula sobre produção artística no curso de Pós Graduação Engenharia de Produção, na Faculdade Estácio, em Salvador, no ano de 2020.
Realizou exposição das obras na Escola de Administração da UFBA- Universidade Federal da Bahia, no Seminário de Economia Criativa, em 2019.
Ainda em 2019, desenvolveu uma Oficina Criativa na Biblioteca Central da Bahia, onde os participantes puderam experimentar e produzir arte em bolsas recicladas.
“Minha principal realização através da arte é ter um reconhecimento dentro das universidades de Salvador”.
As obras de Lívia estão em uma exposição permanente na Faculdade Unifacs, no Rio Vermelho, desde 2018.
“Meu sonho é manter as Oficinas Artísticas para crianças nas escolas reutilizando os resíduos sólidos hospitalares”, finaliza Lívia.
A seguir, imagens do processo de produção da tela com o desenho intitulado: Árvore do esquecimento.
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