Viés – Signo e Corpo: iniciativa busca inclusão e representatividade na moda e na arte

Projeto estimula a troca de saberes, e o fortalecimento das identidades periféricas para o desenvolvimento de uma moda diversa e inclusiva.

Contando com parcerias locais, Bruna e Marina, em 2017, iniciaram as atividades no espaço cultural Velho Mestre, Duque de Caxias. Foto: Vandre Nascimento

Fashionistas, blogueiras e modistas famosas na internet são seguidas por milhões de pessoas nas redes sociais, quase sempre ostentando luxo e peças exclusivas.
Na contramão da indústria formal da moda e da arte nasce o projeto Viés – Signo e Corpo.

Em 2016 ocorreu um encontro casual entre duas artistas periféricas na cidade de Duque de Caxias, chamadas Bruna Marra e Marina Cristina.
As artistas pensaram numa maneira de “integrar a ideia de explorar as expressões identitárias de cada sociedade por meio da linguagem não verbal, da vestimenta e da pintura corporal. Contamos sempre com a colaboração de outras pessoas nas nossas produções e execução dos projetos, até porque acreditamos nas redes periféricas, na ideia de coletividade que permeia nossas comunidades e nossos fazeres culturais” explica Bruna.

Além da inclusão a arte e a educação são caminhos que definem o Viés – Signo e Corpo. Foto: Vandre Nascimento

Antes da pandemia mundial, Marina e Bruna produziram um curso de forma presencial, receberam uma verba para realização das oficinas e uma exposição com imagens dos trabalhos dos participantes. Alguns casos marcaram bastante a vida delas, como o da aluna de capoeira do espaço cultural Donana, em Belford Roxo, que nasceu com microcefalia e fez questão de aprender a costurar – mesmo tendo a opção de usar a cola de tecido. Outro caso que faz parte da memória afetiva das artistas é de uma moradora da Cidade Alta, em que se emocionou ao falar que estava muito feliz, porque muitas pessoas têm medo de entrar na comunidade e realizar projetos sociais. 

Este ano o Viés – Signo e Corpo está produzindo um curso online de corte e costura e estampa criativa, mas com muito carinho e dedicação.  Foram acrescentados à ideia inicial do projeto o compromisso de sustentar a arte, a educação e ainda disseminar essa vontade para os participantes da formação. A costura nas oficinas era só à mão, agora entram as máquinas de costura e a pintura na pele passou para o tecido.

— Trabalhar com moda sendo e estando na periferia já é um desafio e virtualmente é ainda mais desafiador, porém tem sido um grande aprendizado e a ideia de explorar várias ferramentas que enriquecem essa troca de conhecimentos trouxe muito progresso intelectual para o projeto.
Uma diferença entre o virtual e o presencial é que nas oficinas presenciais a gente tem a possibilidade de maior interação entre os alunos e o foco maior é mais voltado para a parte prática. Presencialmente também eu noto que o aprendizado das partes técnicas é um pouco mais rápido. Por outro lado, no virtual estamos tendo mais tempo ( se é que podemos falar de tempo nessa pandemia) para troca de ideias, falar mais dos conceitos e moda e ouvir mais as participantes, diz Marina.

Mesmo sem contato físico e calor humano os primeiros encontros virtuais da formação foram bem sucedidos. Foto: Viés – Corpo e Signo

Unidas pelo trabalho e a força de ver seu território crescer, as moças concluíram que moda não poderia ser de forma isolada, não adianta empreender quando pessoas passam fome, não possuem acesso à educação e nem mesmo a saneamento básico. Tudo está interligado e a “semente” de moda alternativa se transformou na “planta” da moda periférica e sustentável. A ideia de fazer sua própria roupa foi somada à crítica à indústria da moda e a cultura do consumismo capitalista. 

Para tanto, mais políticas de incentivo à cultura são apoiadas por Marina Cristina, “as leis de incentivos são fundamentais para a sobrevivência de projetos culturais na periferia. Uma vez que a maioria produtora de arte e cultura na periferia são os próprios cidadãos periféricos. Afinal, estamos falando de uma população que todo dia luta por sua sobrevivência e ao mesmo tempo precisa da arte como ferramenta de voz. Então sem as leis de incentivos fica inviável para gente produzir arte e cultura, se não ficamos dependentes da parcela que tem mais condições financeiras de ter interesse em olhar para comunidades. E eles não tem”.

Muitas ações compõem a programação online do projeto social. Sonhos sendo construídos coletivamente. Foto: divulgação

Já para Bruna Marra, o estilo periférico ainda é visto como algo secundário para os trabalhadores da alta moda, “nos colocam num estereótipo de exótico ou como simples  reprodutores do que eles ditam o que é ou não é moda. Pensamos então em gerar interesse nas pessoas de periferias como nós, em voltar o olhar para dentro das suas comunidades, para dentro de si mesmos e pensar novas formas sustentáveis, conscientes de moda. Queremos debater formas do dinheiro da periferia, ficar na periferia. Formas de aumentar a renda das pessoas daqui sem exploração, formas de não sermos completamente dependentes de leis de incentivos ou das classes de maior renda”.

Com leveza e atitude,  a dupla Bruna e Marina constituem um esperança para favelas, morros e periferias da Baixada Fluminense. Foto: Vandre Nascimento.

Fragmentando poético do nome em conceito – https://linktr.ee/viessignoecorpo

Viés

Trajetória  na diagonal

Tira de pano cortado para enfeite ou para acabamentos 

 Forma de pensar desvirtuada e oblíqua

A roupa que vestimos

O enfeitar-se de pano

Fora da reta

Caminho.

Corpo

Organismo vivo

Importância real, tomar corpo

Materialidade do ser

Agregação de indivíduos

Tela.

Signo

Forma ou fenômeno que representa algo diferente de si mesmo

Ressignificar, dar novo sentido

Átomo da linguagem

Forma de expressão

Sentido de ser único

Símbolo

Viés – Signo e Corpo recebe incentivo cultural através da Lei Aldir Blanc.

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