Noite do dia 18 de setembro de 2010. Algumas pessoas estão no shopping…, outras caminhando no calçadão da praia…, outras ainda trabalhando… Também ocorre uma operação dos policiais do 16º. BPM (Olaria) do Estado do Rio de Janeiro.
Neste exato momento Julio César Coelho sai de casa para trabalhar no McDonald’s da zona sul…
Os policiais estão atuando na nova política de segurança do Estado do Rio de Janeiro, cuja meta divulgada é intervir sem vítimas, bem como ocupar e não mais sair. Claro que estamos falando das ações realizadas nas favelas, onde os policiais podem entrar, ou seja, onde é possível intervir mais facilmente sobre a questão das drogas.
Dia desses prenderam dois homens, pai e filho, numa cobertura do bairro do Recreio, que plantavam “maconha” para consumo…pura diversão! Mas a regra sempre foi agir com pressão, diga-se brutalização, contra os que vendem as drogas… mas, pobres miseráveis!
Bem, mas temos que respeitar aquelas opiniões que dizem que estas crianças, adolescentes e jovens decidem o seu destino, porque querem vida fácil…! Fácil? Claro que as pessoas fazem parte de um grupo comunitário de amigos e família e, por que não, altamente festivos. Mas, nascer num lugar cujas casas, na maioria, não tem emboço, que possuem terreno instável, telhado frágil, serviços de esgoto e água alternativos, conflitos entre grupos rivais, ações policiais, imprensa para noticiar mortes… vida fácil??
O fato é que Julio César saiu como faz todo dia, para trabalhar. Morador da Comunidade “Cidade Alta”, ia para cumprir o seu ofício noturno, já que estudava durante o dia. Sua tia disse que era um “bom garoto”… já os policiais, um dos integrantes do grupo do tráfico. Bem, a questão é: Julio César morreu, bem como os seus projetos, que também se foram. Talvez apenas mais um na contabilidade trágica da nossa cidade. Falavam sempre na cidade maravilhosa! Afinal, não é isso que todos querem: que a sua cidade seja maravilhosa? É pedir demais? É querer demais, como diz Bauman, morar com sentimento de comunidade na comunidade?
Esta ocorrência, que não simplesmente policial, atinge o que está sendo construído no imaginário coletivo dos moradores da cidade do Rio de Janeiro, bem como dos visitantes. Este fato ocorrido com Julio César não condiz com o que se promete agora. Não queremos que ocorram mortes nas ações das favelas do Rio de Janeiro, nem mesmo dos traficantes, pois vivemos num país que deve prevalecer os meios legais de atuação do Estado!
Tínhamos ou temos uma cifra enorme de mortes em confronto, como ocorre em outros países que vivem em intenso conflito político e religioso, mas nos vangloriamos por “sermos” uma democracia. Então, nesta nova política criminal, de ocupação social, mesmo que pela Polícia Militar, não deve haver espaço para a legalização da morte do cidadão quando estivermos falando de drogas! Qual a política para a questão das drogas? Continuar reprimindo quem vende e cuidando da saúde de quem consome? E a saúde de quem vende, que é morador da favela, e que possui, na maioria dos casos, menos de vinte anos?
Eleger os nossos representantes políticos é eleger a política que queremos. Queremos a política criminal do confronto? Queremos um presidente que apóia a polícia pacificadora? Queremos ser tratados como cidadãos ou inimigos? Que país nós queremos? Dê a César o que é de César: a vida! A Dignidade! O respeito!
Primavera da Cidade. 2010.
Aderlan Crespo