Não se trata de uma guerra dos sexos ou um mero discurso feminista, mas sim uma triste constatação sobre os efeitos negativos da pandemia na vida das mulheres, que vale muito a reflexão, visto que as mulheres periféricas sentem esses efeitos na pele de forma potencializada.
Pandemia e saúde mental:
Nunca foi tão visto os relatos de milhares de mulheres que se viram , nessa pandemia , com problemas de saúde mental : surtos, crises de pânico, depressão, ansiedade, medo, entre outros. Uma verdadeira montanha russa de emoções , com altos e baixos de euforia e tristeza, tudo junto e misturado , totalmente sem ajuda ou recursos para sair dessa situação.
O pesadelo se instala com o fato de ter que lidar com uma doença desconhecida e tão letal além da preocupação com a sobrevivência pessoal, dos filhos, familiares e amigos.
As mulheres são alvos fáceis da contaminação pelo vírus, pela necessidade de super exposição ao utilizar o transporte público para trabalhar, nas casas de pessoas de classe social superior (vide o primeiro caso de óbito por Covid 19 : mulher negra periférica, empregada doméstica ). Sendo que essas mesmas mulheres não tinham e continuam não tendo qualquer base de apoio familiar.
Pandemia e desemprego:
Com a necessidade da quarentena e os filhos em casa, muitas mulheres perderam seus empregos ou suas fontes de renda no mercado informal. Mulheres guerreiras que sempre “se viravam nos trinta” mas com dignidade, venciam cada obstáculo, e que de repente tiveram que confrontar a morte, o desespero e a fome.
Pandemia , violência doméstica, de gênero e a violência urbana :
Infelizmente os altos índices de violência vem demonstrando a tamanha covardia para com as mulheres e crianças , pois em uma combinação de medo (pela doença) e os problemas relacionados à fome e a miséria, quem leva a pior ?
Maridos e companheiros dentro de casa se tornam cada dia mais algozes de sua própria família. Sem contar todas as violações de direitos com mulheres, chefes de suas famílias, sendo despejadas sem qualquer compaixão.
Um enorme abismo entre as políticas públicas e as reais necessidades das mulheres, mães, e de seus filhos. Em sua maioria, são mulheres sem estudos, tendo que ensinar seus filhos em casa, sem comida, sem internet e sem computadores e celulares. Mulheres tendo que lidar com a cruel exclusão social e digital.
Mulheres vítimas (mortas e sobreviventes), onde muitas que perderam seus entes queridos para a doença, na verdade famílias inteiras morrendo, dentro da monstruosa marca dos quase 480 mil óbitos, e que ainda sim precisam seguir, sem rumo e sem direção.
Pandemia e Auxilio Emergencial :
Que auxílio? O dito Auxílio Emergencial não ajudou o tanto que precisaria ajudar, muito pelo contrário, fez acirrar as desigualdades sociais, trazendo ainda mais problemas : alto consumo de drogas e álcool e o abandono de quem já estava doente antes da pandemia.
Clima tenso e inóspito, principalmente, também, para as outras “minorias”, que na verdade são a maioria: população em situação de rua, LGBTQIA+, idosos , indígenas e pretos.
Há muito o que debater, mostrar a verdade e a realidade, onde essa pandemia, aqui no Brasil, por força das péssimas circunstâncias, escolhe as vítimas pelo recorte racial, de gênero e de classe social para dizimar.
Deu ruim pra nós, mulherada! Mas vamos prosseguindo nas lutas!