João sempre foi artista.
Daqueles que desenhavam um futuro otimista.
Todos os seus traços eram muito mais que bonecos de palito.
Sua inspiração vinha de um mundo infinito.
Sonhar e acreditar nunca saíam do seu dicionário.
Mas a vida o colocaria em outro cenário.
Talvez a felicidade tivesse outro destinatário.
Não seria um caso muito raro.
Aos 11, enfrentou o abandono do pai.
Aquele senhor, usuário de drogas, não voltou mais.
Aos 13, perdeu a mãe em uma enchente.
Desde aquele dia, 10 pessoas não vivem mais entre a gente.
Aos 14, era responsável por um filho.
A Terra ganhava mais um menino e um homem precoce.
Em dias de frio, ele não sabia nada sobre tosse.
Aos 17, largou os estudos.
Aos 19, já estava em seu 10º bico.
Entre um rascunho e outro, nas horas vagas, tentava voltar ao início.
Porém, o tempo não pediu licença para passar.
Arte no país demora a sustentar.
Murais urbanos sempre custam a pôr comida na mesa.
Nada, aos 26, cobria as despesas.
Aos 29, terminou a escola e começou um curso.
Mas, aos 31, se tinha conseguido meia dúzia de trabalhos bem pagos, foi muito.
Como pai de família, era cobrado por seus descuidos.
Anos e anos se passaram até aquele telefonema.
O final dos seus problemas.
Hoje, aos 35, narra sua trajetória até chegar a este convite.
Os versos falam da vitória de João, em seu primeiro enorme grafite.