A Prefeitura de São Paulo anunciou que irá instalar na cidade cinco novas estátuas de personalidades negras. São elas: a escritora Carolina Maria de Jesus, o músico Itamar Assumpção, o músico Geraldo Filme, o atleta olímpico Adhemar Ferreira da Silva e a sambista Deolinda Madre.
Todos apresentam uma história de vida com forte relação com a cidade.
Carolina Maria de Jesus se mudou para a capital aos 23 anos com seus três filhos, e em seu trabalho como catadora de lixo, onde andava por todos os cantos, guardava principalmente os cadernos que encontrava. Foi neles que registrou por escrito suas vivências e visões de mundo, e foi reconhecida como escritora. Em um trecho do seu livro Quarto de Despejo, ela diz: “Classifico São Paulo assim: O Palácio é a sala de visita. A prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos.”
Itamar Assumpção foi um dos grandes nomes da Vanguarda Paulista. Nasceu no Tietê, aprendeu diversos instrumentos de forma autodidata, mas se encantava mesmo era pelo baixo, instrumento do seu ídolo Jimmy Hendrix. Apesar de ter tido um curto tempo de vida, conseguiu se firmar enquanto artista revolucionário e influenciou vários músicos, tendo seu trabalho ainda hoje cultuado pelas novas gerações.
Em sua rede social, Anelis Assumpção, filha de Itamar, compartilhou um texto emocionada com a homenagem à seu pai:
“(…) todas essas pessoas merecem estátuas, ruas e avenidas em suas homenagens, mas também tantos e tantas invisibilizados e marginalizados pelo sistema eugenista que foram minguados a miséria e à marginalidade. São símbolos imensos de conquistas para toda a comunidade preta que luta por igualdade e reconhecimento nas artes, nos esportes, na literatura, ciência e cultura deste país preto. Eu, pequena aprendiz na luta, ainda estou anestesiada pelo feito e espero do fundo que essas estátuas sejam as primeiras de muitas ainda a se erguerem pelas vias deste país.”
Outro músico que terá sua estátua será Geraldo Filme, cantor, compositor e importante nome do samba paulistano. Em suas obras, trazia a força, vida e a luta do povo pobre e negro, dos injustiçados e oprimidos, além de sua própria história e ancestralidade.
Suas canções narravam não só as injustiças sociais, como as mudanças que ocorriam na capital paulista, que se tornou símbolo da modernidade:
“Quem nunca viu o samba amanhecer
Vai no Bexiga pra ver
Vai no Bexiga pra ver
O samba não levanta mais poeira
Asfalto hoje cobriu o nosso chão
Lembrança eu tenho da Saracura
Saudade tenho do nosso cordão
Bexiga hoje é só arranha-céu
E não se vê mais a luz da Lua
Mas o Vai-Vai está firme no pedaço
É tradição e o samba continua” – trecho da música “Tradição”
Adhemar Ferreira da Silva foi um atleta brasileiro de atletismo, consagrado como primeiro bicampeão olímpico do país. O lendário esportista faleceu a 20 anos atrás, deixando seu nome registrado na história como um dos maiores do esporte brasileiro. Foram inúmeras as vitórias conquistadas em vida, mas um gesto que ficou eternizado foi a criação da volta olímpica, que o mesmo realizou após a vitória no estádio de Helsinque, nos jogos de 1952.
Por último, mas não menos importante, a sambista Deolinda Madre. Conhecida como Madrinha Eunice, foi responsável pela fundação da escola de samba do Lavapés, a primeira do estado de São Paulo. O local foi instituído como o Marco Zero do Samba de São Paulo, dado sua característica insurgente, que defendia o samba como legítima manifestação cultural, em um tempo onde os sambistas eram vítimas de preconceito, violência e intolerância.
Em tempos onde pessoas são presas por queimarem estátuas de bandeirantes ligados à morte e escravização de indígenas e negros, iniciativas como essa são essenciais para que se debata acerca da manutenção de monumentos racistas, e a verdadeira cor e história deste país possa se legitimada e reconhecida. Símbolos de colonizadores escravagistas em pleno século 21 mantidos em pé, representam a violência histórica de todo um povo estampada na paisagem urbana da cidade.
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