Poucas pesquisas buscam, com profundidade, dados sobre a realidade das favelas e periferias, principalmente na pandemia.
A favela sem máscaras na pandemia
No Brasil todo, por volta de 56% da população se declara negra; sendo 19,2 milhões declarando-se como pretos e 89,7 milhões, pardos, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) do IBGE acerca do 3.º trimestre de 2020.
E ainda, de acordo com os dados da pesquisa “Economia das Favelas – Renda e Consumo nas Favelas Brasileiras”, desenvolvida pelos institutos Data Favela e Locomotiva, e encomendada pela Comunidade Door em 2020, 67% dos moradores das comunidades brasileiras são negros.
Já de acordo com a quarta edição da plataforma Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, lançada em setembro de 2020, os negros são maioria entre as pessoas pobres e extremamente pobres do país.
Aliado a todo esse contexto, temos os dados sobre a violência: as pessoas negras carregam as maiores taxas de homicídio, elas representam 60% dos encarcerados nos presídios brasileiros, ganham menos quando comparados com os brancos e, nos últimos dez anos, o homicídio de mulheres negras aumentou 12,4%, enquanto o assassinato de mulheres brancas reduziu 11,7%.
De acordo com o 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em 2019, 75,4% dos negros foram vítimas de homicídios cujos autores dos assassinatos foram policiais. Rotina comum nas periferias onde as intervenções policiais são constantes.
Violência e pandemia
Então, falar de favela, também é falar do apartheid que o racismo estrutural e estruturante promove. Quando os marcadores referenciais são a desvantagem social e econômica, enxergamos então: a proporcionalidade dos negros e brancos que vivem em comunidades, assim como na população desabrigada que vive nas ruas das grandes cidades, na mais completa falta de cidadania.
Como não afirmar que é flagrante a violência que cerca as favelas e periferias? E que a violência não está restrita a atuação dos agentes da segurança pública do Estado? O desaparelhamento é geral, sempre existiu e a pandemia apenas o ampliou.
A pandemia mostrou a fragilidade dos serviços e aparelhos públicos nos espaços periféricos. A pandemia evidenciou a omissão do Estado, enquanto instituição redistribuidora dos recursos sociais, potencializou a insegurança alimentar, a falta do acesso à água e à saúde de qualidade, tornando a periferia o exemplo da precarização da existência. O aumento da desigualdade produzida durante esse período apresentou a desproteção social e ausência de políticas públicas para a periferia.
A estratégia da favela
Ao perceberem que a desassistência levaria mais caos e morte aos seus territórios, a favela se auto organizou e se mobilizou com recursos locais, trazendo à tona as tecnologias transgeracionais de aquilombamento, que mantiveram a periferia de pé até hoje.
É preciso entender que na favela o isolamento social não funciona, porque a população precisa buscar, nas suas atividades de sobrevivência, o mínimo existencial. A comida não cai do céu.
O Levantamento do Instituto Data Favela e da Locomotiva divulgado em 2019, constatou que, nas favelas brasileiras, ficar uma semana em casa sem renda implicaria 72% dos moradores a não conseguirem manter, o já difícil padrão de vida que possuem. Por isso, a ação de mobilização de coletivos nas mais diversas comunidade do país foi imprescindível para garantir o mínimo de assistência às pessoas.
A arrecadação de porta em porta, as redes de cuidadores de crianças e idosos, para que o provedor familiar pudesse providenciar o sustento de todos; o tensionamento sobre o poder público para garantir os serviços básicos, como água para a higienização das mãos e dos ambientes. Toda mobilização foi e sempre será a palavra de ordem para a sobrevivência da favela.
A força da mobilização comunitária
O impacto social pelo adoecimento e pelas mortes, seria muito maior sem a mobilização comunitária. Sem o apoio entre as famílias, entre as lideranças comunitárias, entre os coletivos assistenciais que desenvolvem as diversas atividades nas comunidades.
No auge da crise, que ainda perdura, as redes que atuam ou vivem em áreas de vulnerabilidade social têm se mobilizado por meio de articulações comunitárias e fortalecimento de redes de solidariedade para combater o vírus, e reduzir os impactos sociais e econômicos nos territórios.
Dentre as articulações realizadas, estão presentes diferentes atores da sociedade civil, como universidades, ONGs e empresas privadas. As ações desenvolvidas são diversas e englobam arrecadação de doações, cadastro de famílias de baixa renda, combate a fake news, produção de conhecimento, acolhimento e capacitação de jovens moradores de favelas.
Toda rede descobriu a sua melhor forma para a proteção da população periférica e que as ações deveriam ser conjuntas, coordenadas e simultâneas.
Para informações completas sobre os dados da Casa Firjan, clique aqui. E para informações sobre os dados da pandemia nas favelas, confira aqui.
Você já leu a minha matéria sobre o que é ser uma mulher negra na advocacia no Brasil? Clique aqui para conferir.
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