Neste dia, 15 de novembro, vítimas de acidentes de trânsito, seus familiares e amigos, equipes da área de segurança e saúde também são homenageados devido assistência durante o processo de atendimento e prestação de socorro, desde o recebimento da ocorrência.
Data representativa no calendário mundial, reforça análises com relação a quantidade de vítimas de acidentes de trânsito por todas as partes do mundo.
Segundo dados do Registro Nacional de Acidentes de Estatísticas de Trânsito, elaborado pela Secretaria Nacional do Ministério da Infraestrutura, de janeiro a setembro deste ano foram registrados 390,7 mil desastres automobilísticos no Brasil, equivalente a 34% a menos que o ano anterior, analisando o mesmo período, contabilizando 595,9 mil.
Vamos compreender melhor a situação do Brasil pegando como exemplo dois estados do nordeste, Bahia e Pernambuco, e trazendo situações dados recentes das suas respectivas capitais (Salvador e Recife).
Situação da Bahia/Salvador (Produção de Jadson Nascimento, colaborador da ANF, em Salvador)
Em abril deste ano a Bahia entrou para o grupo de 15 estados que já disponibilizam as informações sobre as ocorrências nas vias. O levantamento dos dados é feito pelo Detran-BA, em parceria com as secretarias estaduais da Infraestrutura (Seinfra), Segurança Pública (SSP).
Em Salvador, no primeiro trimestre deste ano, o percentual de acidentes teve uma queda de 13%, em comparação ao mesmo período de 2020, entretanto a taxa de letalidade das ocorrências aumentou de 4,3% para 4,6%, segundo informações da Superintendência de Transito de Salvador (Transalvador).
Morador do Bairro Pero Vaz, em Salvador, Carlos Alberto (27), estudante de jornalismo e motoboy, conta que “viver o trânsito é algo muito estressante além de ser muito perigoso. As pessoas não respeitam as leis de trânsito, querem passar na frente de todos, principalmente para nós que somos motoboys, os carros maiores não respeitam a gente, fecham a gente. Então além de ser muito estressante é também perigoso”.
Carlos sobreviveu a um acidente de trânsito e comenta sobre esta experiência. Veja o vídeo abaixo.
Ainda segundo a Transalvador, do início de janeiro até setembro deste ano, cerca de 30 motociclistas morreram e 1.386 ficaram feridos em acidentes de trânsito. Esses dados estão expostos em outdoors na cidade, numa campanha educativa da Superintendência em parceria com a Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global, para chamar a atenção dos motociclistas.
Realidade de Pernambuco/Recife (Produção de Ane Feitosa, colaboradora da ANF, em Recife)
Na última quinta-feira (11), a Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife – Ameciclo, a União de Ciclistas de Pernambuco – UCIPE e outros grupos de ciclistas realizaram um ato na Av. Caxangá em homenagem a Flávio Antônio, de 42 anos, atropelado próximo ao Caxangá Golf & Country Club, no dia 3 de novembro.
Flávio era um trabalhador que fazia o mesmo percurso há 18 anos em sua bicicleta barra circular, de segunda a sábado. Em várias declarações, ele dizia que a bicicleta proporcionava saúde e economia na sua rotina. A homenagem foi simbolizada com a instalação de uma bicicleta branca no local, também conhecida como ghost bike.
A ação existe para que as vítimas de trânsito não sejam esquecidas, para chamar atenção para a omissão do poder público a respeito da falta de estrutura para os ciclistas e lembrar que o excesso de velocidade mata.
Pesquisas apontam a velocidade como principal causa de mortes no trânsito em todo o mundo. No Recife, a Ameciclo atua para garantir que a gestão executiva cumpra o Plano Diretor Cicloviário (PDC), documento construído em 2014 que contempla toda a Região Metropolitana com estudos para a implantação de estruturas cicloviárias.
A Avenida Caxangá está inclusa no PDC e, no local, esta prevista ciclovia ao longo de toda sua extensão, ligando Camaragibe ao centro da capital. A via foi elencada como a quinta avenida mais violenta do Recife, com cerca de 300 colisões anuais, o que corresponde a 3% das colisões totais do Recife.
Desde 2016, a Caxangá soma 49 colisões com ciclistas, registrando o maior número durante a pandemia. Em 2020, um em cada 10 ciclistas atropelados teve a Caxangá como cenário. Somente até julho deste ano, foram 51 colisões e atropelamentos na via, sendo cinco com ciclistas.
Pela soma das Contagens de Ciclistas realizadas pela Prefeitura do Recife e a associação, na via em questão passam entre três e cinco mil ciclistas por dia, que se arriscam entre os bordos da via e a faixa exclusiva para BRT, local por vezes preferido por ciclistas por diminuir a sensação de insegurança diante das condições da avenida hoje. Inclusive, o Manual do BRT informa que caso não tenham ciclovias, ciclistas podem usar a faixa.
Confira alguns depoimentos sobre acidentes de trânsito através das redes sociais.
“Todos os dias levo fino de carro e BRT”, “Com estrutura cicloviária na via eu perderia meu medo de morrer, a avenida permite velocidades altas demais”, “Motoristas parecem ter ódio de ciclistas, eles botam o carro para cima de mim e eu tenho que me jogar para a calçada”.
“Na campanha eleitoral de 2020, o atual prefeito do Recife se comprometeu em reduzir as velocidades das vias e priorizar o transporte sustentável, mas não é isso que vemos quando temos avenidas violentas, que passam vários ciclistas por dia, sendo ignoradas no planejamento urbano. O que protege quem anda de bicicleta são ciclovias e ciclofaixas, redução da velocidade e investimento para tornar o trânsito seguro para as pessoas escolherem como querem se locomover”, pontua Vanessa Santana, coordenadora da Ameciclo.
Três dias após o atropelamento de Flávio Antônio na Av. Caxangá, Diogo Emanoel da Luz, de apenas 16 anos, foi assassinado por um motorista cujo carro estava em alta velocidade no bairro de Vera Cruz, em Camaragibe. O suspeito fugiu sem prestar socorro e a vítima faleceu no local.
Segundo os moradores, no trecho em questão há risco para todas as pessoas, em virtude da negligência dos órgãos responsáveis do município por não garantirem a segurança necessária, como a fiscalização da velocidade e sinalização na curva existente. Também vamos à rua em memória de Diogo, adolescente que teve sua vida ceifada pela carrocracia.
“Há aproximadamente dois anos, quando regressava de São Lourenço da Mata, em direção ao Recife, pela BR-232, por volta das 23:30 horas, acabei por chocar o lado dianteiro esquerdo (motorista) do meu automóvel com o lado direito de outro automóvel, exatamente, numa curva acentuada e estreita. Recém-habilitado, não estava acostumado, nem preparado o suficiente para dirigir numa rodovia. Não me atentei para a curva e a necessidade de reduzir a velocidade; uma vez que os ponteiros marcavam acima de 60Km/h”, desabafa Davi Luis Viera da Silva, 21, estudante de Direito, morador do Ipsep, em Recife.
É preciso uma conscientização individual e, ao mesmo tempo, coletiva, acerca dos perigos do trânsito e da importância dos condutores assumirem uma postura responsável ao volante, respeitando a Legislação do Trânsito, e evitando, assim, os vários tipos de acidentes.
Proposta para LOA e PPA
Este ano, a Ameciclo elaborou a LOAMOB – Proposta de Lei Orçamentária Anual para a Mobilidade Sustentável, visando a incidência no orçamento público do município do Recife. Foram estudadas as ações propostas na LOA 2022 e no PPA 2022/2025, indicando onde e para quais ações deveriam receber emendas aditivas, modificativas ou supressivas, bem como projetos e ações que são interessantes que tenham manutenção de seus textos, com foco na mobilidade.
Na Ação ‘Promoção da Mobilidade e Acessibilidade’, a Ameciclo sugere a adição das seguintes subações: Elaborar estudos, planos e projetos de estrutura cicloviária; Elaborar estudos, planos e projetos para medidas de segurança no trânsito; Elaborar estudos, planos e projetos para garantir acessibilidade nas vias e espaços públicos.
Como justificativa, os autores da proposta – os associados Daniel Valença e Lígia Lima – discorrem que em anos anteriores, essa ação tinha como objetivos, dentre vários, “assegurar melhores condições operacionais dos sistemas viários e de passageiros, reduzindo os acidentes de trânsito e ampliando as vias locais de circulação”. Apesar de grandes dotações orçamentárias, a execução sempre foi insatisfatório daquilo previsto nas Leis Orçamentárias Anuais.
“Entre 2017 e 2020, ações que privilegiam os automóveis individuais consumiram 83% do orçamento da mobilidade no Recife. Para efeito de comparação, entre 2013 e 2019 – anos em que houve maior expansão cicloviária no Recife – foram investidos menos de R$ 8 milhões com estrutura cicloviária, sendo a maioria embutida no orçamento de sinalização. No entanto, obras e ações para o automóvel consumiram, no mesmo período, muito mais, a exemplo da Via Mangue (R$ 625 milhões), pavimentação de novas vias (R$ 68 milhões), recapeamento de vias (R$ 341 milhões) e orientadores de trânsito (R$ 71 milhões) – totalizando R,1 bilhão de reais”, alerta a LOAMOB.
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