Nise da Silveira se formou em psiquiatria em 1926 sendo a única mulher em uma turma de 158 pessoas. Em outras palavras, em uma época dominada por homens ela se destacou e quebrou ideologias seguidas por outros psicólogos. Ela nasceu no estado de Alagoas e se destacou no Rio de Janeiro, capital do Brasil neste período.
Ela se recusou usar Eletrochoques (técnica violenta e desumana) em pacientes na ala de Tratamento Mental, ela foi transferida para o trabalho de Terapia Ocupacional, atividade então menosprezada por médicos. Em seguida ela criou “Seção de Terapêutica Ocupacional”.
Nise revolucionou os tratamentos violentos da época e adotando a pintura e modelagem em seu trabalho, fazendo com que os pacientes tivessem uma recuperação mais acentuada. Ela criou um lugar chamado de Casa das Palmeiras, uma clínica voltada a reabilitação de antigos pacientes de instituições psiquiátricas. E foi reconhecida através de diversos prêmios ao longo da sua jornada em prol de um tratamento mais humanizado na Psiquiatria.
O Prêmio Nise da Silveira
O Deputado Estadual Waldeck Carneiro, que preside atualmente a pasta de Ciência e Tecnologia da ALERJ criou o Prêmio Nise da Silveira. Baseado na história desta mulher que quebrou paradigmas (padrões antigos) há décadas atrás e que sempre pensou muito à frente de seus companheiros da área de Psicologia.
ANF – Nos conte um pouco de como foi o processo de criação do Prêmio Nise da Silveira?
Deputado Waldeck Carneiro – O Prêmio Nise da Silveira tem 3 grandes dimensões:
A primeira valorizar o legado desta mulher revolucionária. Praticamente no século passado, na década de 30 sendo ela uma psquiatra, que colidiu com os padrões terapêuticos da época. Ela via os pacientes como pessoas dotadas de potencialidades e que podiam exercer sua cidadania através da arte.
Hoje no Brasil nós enfrentamos um grande de investimento na área de Saúde Pública para o choque, a bíblia e o banho frio. Ressalto o papel da Nise da Silveira por sua originalidade e coragem antes da reforma psiquiátrica ser reconhecida no mundo.
A segunda é o reconhecimento da atuação de parceiros dos movimentos sociais, tais como profissionais especializados na área de Saúde Mental, como Gestor de Unidade de Saúde Mental e como Pesquisadores da área de Saúde Mental.
A terceira dimensão é a inclusão de pessoas que pesquisam, o campo de Saúde Mental, porque nós vivemos em um momento em que a ciência brasileira, as universidades e os institutos de pesquisa estão sendo severamente atacados pelo Governo Federal de matriz autoritária e fascista.
ANF – Como o Sr. vê a necessidade da importância aos estudos científicos dentro do nosso país?
Deputado Waldeck Carneiro – É muito importante valorizar a produção científica sobre Saúde Mental principalmente os programas de Pós-Graduação, os projetos de Iniciação Científica e os projetos de Extensão acadêmica no Brasil. E o prêmio não é uma iniciativa isolada de enfrentamento aos retrocessos causados nesses últimos anos, pois os profissionais e os atores sociais deste campo merecem ser reconhecidos. A premiação acontecerá em outubro deste ano de 2022.
O projeto”Saúde Mental na Periferia, Como Vamos!” da ANF.
A ANF participou do edital de chamada publica para apoio as Ações Emergenciais de Enfrentamento a COVID-19 da FIOCRUZ e foi contemplado em primeiro lugar. O projeto é desenvolvido em parceria com os alunos e profissionais de Psicologia da UFRJ e conta com a participação de colaboradores da ANF, para poder desenvolver matérias jornalísticas sobre o cotidiano das periferias e favelas do Rio de Janeiro sobre o tema Saúde Mental. E o Instituto Data ANF é a instituição responsável pela pesquisa de levantamento de dados respectivamente com mulheres de favelas sobre o tema.
Lerrania Lima é a Coordenadora do Projeto Saúde Mental na Periferia, Como Vamos? Ela nos contará como o projeto está sendo desenvolvido.
ANF – Lerrania como o projeto está contribuindo para com a Saúde Mental dos moradores de periferias e favelas afetados pela Pandemia?
Lerrania Lima – Nossa equipe é composta por profissionais competentes e muito sensíveis as questões de Saúde Mental dentro das favelas, temos proporcionado atendimento psicossocial ao público alvo do projeto, que são mulheres em situação de vulnerabilidade social e vitimas de violência domestica. Essa vivência frente ao cenário devastador da Pandemia tem transformado a realidade de muitas mulheres, que jamais poderiam ter esse tipo de atendimento se não fosse o projeto.
As três favelas que o projeto abrange, cada uma possui 16 mulheres sendo atendidas semanalmente online, por conta do protocolo de segurança da Ministério da Saúde. E nossas impressões a partir dos relatos das mulheres atendidas é que o isolamento social, o empobrecimento dos moradores de favela, a redução das ações sociais de combate a fome e o luto geraram significativamente cicatrizes profundas, que afetaram diretamente a Saúde Mental delas.
Atualmente o Instituto Data ANF está trabalhando nos dados coletados da pesquisa, que foi realizada nos meses de novembro e dezembro de 2021 nas favelas da Mangueira, Cidade de Deus, Providência, Pavão e Pavãozinho.
Os colaboradores da ANF seguem firmes produzindo matérias sobre o tema no portal da primeira agência de notícias das favelas do mundo, com 21 anos de existência, que se mantém como maior referência de comunicação comunitária com mais de 800 colaboradores cadastrados aptos a escreverem sobre a realidade das favelas e periferias disseminadas nas principais redes sociais.
A importância do apoio local e de parceiros no projeto.
ANF – Qual é o principal diferencial do desenvolvimento do projeto?
Lerrania Lima – O projeto é desenvolvido em parceria com entidades públicas, o apoio da Fiocruz permitiu que ele chegasse de fato às mulheres de favelas e periferias em seus territórios, pois a rotina de sobrevivência destas mulheres é muito dura!
A UFRJ sem dúvida nos presenteou com uma parceria extremamente essencial, que começou desde a concepção do projeto até o suporte tecnológico, porque o atendimento é feito através da plataforma da universidade, que embora apresente alguns problemas, não nos impede de atender com qualidade quem mais precisa.
E as instituições sociais das favelas onde os atendimentos acontecem são a prova viva, do quanto os Direitos Humanos são violados, pelo descaso do Estado. E nos ensinam o quanto as favelas se mobilizaram, para realizar ações humanitárias no enfrentamento a maior Pandemia da história da humanidade.
Apesar da duração de apenas um ano de apoio da Fiocruz ao projeto, acreditamos muito que poderemos aperfeiçoá-lo e seguir contribuindo muito mais com a Saúde Mental destes territórios vulneráveis.
As “Nises da Silveira” de hoje nas favelas.
As favelas não são apenas mão de obras para a cidade, quando um(a) jovem morador(a) de periferia e favela entra na faculdade e consegue se formar, ele(a) torna-se uma “Nise da Silveira”, dentro de um sistema excludente, que permite poucas escolhas entre estudo e trabalho. Existem muitos exemplos como o de Nise da Silveira rompendo barreiras, para dignificar a vida dos excluídos sociais.
Portanto o Prêmio Nise da Silveira será uma grande impulso, para que o grande legado dela esteja eternamente presente nas periferias e favelas do Brasil.
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