Ativista denuncia loja por vender “bonecos de escravo” no aeroporto de Salvador

Bonecos de escravos vendidos no aeroporto de Salvador- Crédito: Paulo Cruz

“Último dia de viagem. Cidade mais preta das Américas. No aeroporto internacional de Salvador a loja Hangar das Artes exibe em sua prateleira figuras de escravos à venda. ACORRENTADOS. No porto de entrada e saída da cidade, repito, mais preta da América. O preço da nossa história, genocídio e dor? R$99,90. Vamos lá perguntar se eles são racistas?”

Foi assim que o historiador carioca, Paulo Cruz denunciou nas redes sociais os produtos que, mostram mulheres e homens acorrentados pelas mãos, vendidos na loja localizada no Aeroporto Internacional de Salvador (BA), na última segunda-feira (7).

Cada unidade dos escravizados, acorrentados, estava sendo vendida por R$ 99,90. Após a denúncia e críticas, a empresa tirou o perfil do Instagram do ar temporariamente.

Outras pessoas também compartilharam a denúncia, como fez o ativista Antonio Isuperio. “Você imagina que poderia ter um boneco de crianças judias em ‘forninhos’ para serem vendidas como adereços? Então, isso não acontece porque o repúdio a violência do Nazismo já esta em domínio público, enquanto nós, n*gros, ainda estamos em processo de conquista a nossa humanidade. Quem será que compra um boneco de pessoas escravizadas? A quem isso serve?”.

Nota da empresa

A loja Hangar das Artes vem a público se retratar e esclarecer os fatos ocorridos na manhã de hoje (07/02/2022).

Trata-se de uma empresa que emprega inúmeras pessoas, atuante no mercado de artesanato e obras de arte há mais de 20 anos, comercializando e divulgando a confecção de obras de diversos artistas regionais, sempre incentivando a produção daquele pequeno artesão cujo seu sustento depende exclusivamente de sua arte.

Todas as obras que exibimos são voltadas para a exaltação da cultura e história baiana e brasileira. Nossa loja está localizada no Aeroporto de Salvador e sempre exaltou as diversas culturas, com ênfase na cultura africana, já que temos orgulho de demarcar que somos, provavelmente, a cidade mais negra fora de África. Sempre com muito respeito e admiração.

As imagens que estão circulando, de algumas de nossas esculturas, tratam-se da imagem do Preto(a) Velho(a) – espíritos que se apresentam sob o arquétipo de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravos, entidades essas que trabalham com a caridade e cuidam de todas as pessoas que os procuram para melhorar a saúde, abrir caminhos e ter proteção no dia a dia. Por isso, algumas das peças possuem correntes, na tentativa (ERRÔNEA) de retratar a história dessa entidade de maneira literal. Erramos na forma em que as peças foram expostas e em descrevê-los apenas como escravos, apagando, de certa forma, a história que carrega.

Pedimos nossas mais sinceras desculpas a todos que se sentiram feridos e menosprezados pela maneira como conduzimos às coisas. Nossa intenção JAMAIS foi menosprezar, ferir ou destituir da imagem de uma entidade tão importante e a potência de sua história. Nossas correntes foram quebradas! E não queremos de maneira alguma trazer de volta memórias desse passado tenebroso e vergonhoso.

Por isso, retiramos todas as peças de circulação afim de minimamente nos retratar diante do ocorrido. Sabemos que não se apaga o que foi feito, mas reconhecemos a nossa falha e não tornaremos a repeti-la, não só pela repercussão que houve e sim por não condizer com a nossa verdade.

Nossas sinceras desculpas pelo ocorrido.

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