Mulheres além do Dia Internacional da Mulher: heroínas Pernambucanas do passado e presente

Crédito: Isis Thayzi.

No Dia Internacional da Mulher a ANF homenageia mulheres que representaram e representam a força e coragem da mulher pernambucana. No dia 31 de janeiro de 2012, a OAB-PE, através da sua Comissão em Defesa da Mulher Advogada, promoveu a entrega da Medalha do Mérito Heroínas do Tejucupapo.

A medalha fez referência à batalha que aconteceu em Tejucupapo, no município de Goiana. 

No dia 24 de abril de 1646, as mulheres do distrito do Tejucupapo, lideradas por: Maria Camarão, Maria Quitéria, Maria Clara e Joaquina, que com inteligência e combatividade se armaram de utensílios agrícolas para expulsarem os holandeses que tentavam invadir a comunidade.

É importante destacar que esta foi a primeira vez em que se registrou a presença feminina em uma luta armada em defesa do território brasileiro. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” (Geraldo Vandré).

Heroínas Pernambucanas

Isis Thayzi

Pedagoga, que acredita na luta enquanto um instrumento de transformação da sociedade. Coordenadora Estadual do Movimento dos Trabalhadores sem teto (MTST), em Recife. Um movimento que organiza trabalhadores para a luta por moradia. “Mas a nossa luta vai muito além disso, é por saúde, educação, lazer. É por dignidade”.

Professora da creche Marielle Franco, localizada na Ocupação Carolina de Jesus, no Barro, Recife-PE. “Espaço esse de carinho, afeto, escuta, cuidado e amor. Onde nossas formiguinhas (nossas crianças ) aprendem desde muito cedo a importância da luta e a manter viva a chama da esperança de dias melhores”.

Para Isis, “as mulheres que me inspiram são as mulheres do povo, aquelas que dedicaram e dedicam sua força e energia na construção de um novo mundo. São mulheres muitas vezes desconhecidas, mas de grande importância como (Marias, Elisângelas, Rafaelas, Camilas, Amandas, Vitórias, Shirleys, Emanueles, Jôs, entre outras). Todas companheiras de luta que estão lado a lado comigo nas trincheiras. Companheiras que me fazem ter a certeza de que venceremos”.

Fernanda Pessoa 

Filha de um professor da rede pública, e uma dona de casa, que parou de trabalhar para cuidar dos três filhos. “Uma das minhas únicas brincadeiras era dar aulas à única boneca que tinha”.

Ela sonhava em ser médica, trabalhar na África, mas alguns acontecimentos e a falta de recursos financeiros mudaram seus planos.

“Engravidei aos 15 anos de idade e foi um momento desafiador, na época, os costumes eram muito rígidos. Apesar disso, os meus pais me deram todo o apoio moral de que precisava, mas havia uma condição: eu teria que assumir a responsabilidade financeira integral com 15 anos”.

Para comprar o enxoval da primeira filha, Débora, Fernanda, vendeu doces, criou uma receita de biscoitos recheados com doce de leite que eram vendidos dentro de latas de leite.

Fernanda sofreu discriminação por ser do Sertão, mulher, muito jovem e mãe, fui recusada em vários lugares e demitida de todos os empregos, consegui ao defender um modelo transformador na educação. “Decidi fundar o meu próprio curso, sem dinheiro, todas as matrículas que eram feitas, eram usadas na construção da 1ª sala de aula, muito tempo depois, o maior curso do país”.

Ela decidiu fazer faculdade e optei pelo curso de letras, porque era um dos únicos que tinha na faculdade. Para pagar, vendia lanche no corredor da instituição. Depois de um tempo, o presidente da faculdade proibiu a venda dos lanches. “Foi quando comecei a fazer lanches para vender no comércio de Arcoverde, aos funcionários das lojas e comecei a receber encomendas de doces, salgados, bolos, que aprendi a fazer com os livros de receita”.

Em 2000, consegui um emprego em uma escola e comecei a dar aulas particulares em Recife. Inaugurei uma turma de Redação em um cursinho com 13 alunos, dos quais oito eram bolsistas. Aos poucos, o sonho ganhou forma e se transformou em uma grande realidade.

Hoje, com duas sedes do Curso Fernanda Pessoa – sendo uma em Recife, no Clube do Internacional, e outra na cidade de Caruaru-somos o maior curso pré-vestibular do país (tanto em número de alunos matriculados quanto em número de aprovações). Criei também um curso online que hoje aprova alunos em todos os estados do país e no Distrito Federal.

Hoje são mais de cinco mil alunos matriculados no curso presencial, dentre os quais 900 são bolsistas por motivos sociais. Além dos mais de 10 mil alunos no curso online. Acredito que a educação humanizada é capaz de revolucionar!

O meu papel no mundo é mostrar que as pessoas são capazes de conquistar seus sonhos e, a partir do conhecimento adquirido, transformar a vida de outras pessoas!

Para mim, o amor e o conhecimento representam, sem dúvidas, o caminho para um país mais humano e menos desigual. Nunca tive uma pessoa como referencial (infelizmente) porque sempre fui cercada por pessoas que tinham medo de viver! Meu maior referencial é a vida! Sempre me inspirei nela porque acho que viver é uma grande oportunidade!

Negra Dany

Afroempreendedora, Omorixá, filha de oxum, mãe, estudante de Serviço Social, Educadora, uma das idealizadoras da Feira Quilombar de Arte Negra, idealizadora da marca Turbantes e Brincos Negra Dany e do projeto Turbante-se e Fala.

Sua jornada como empreendedora aconteceu meio de repente, quando ficou desempregada e sem saber o que fazer, pesquisou no YouTube, assuntos relacionados ao artesanato e apareceu um vídeo de uma mulher fazendo uns brincos, com: Papelão, tecido e cola.

E foi desde esse dia, que decidi qual seria a minha fonte de renda. Logo depois surgiu o convite para ministrar uma oficina de turbante no Mab (Museu da Abolição) e também levar alguma coisa pra vender.

Levei uns turbantes feito de uma forma muito improvisada, com uns tecidos que eu tinha em casa, fiz em média 20 brincos, e vendi tudo.

Um amigo fez sua logomarca, e estou há quase seis anos, Negra Dany está r-existindo desde então e focada em tornar o empreendimento gigante e vivo.

“Minhas inspirações são: minha mãe (Jane), a minha vó (Maria de angola, awo), minha Ialorixá (mãe Telinha), minha madrinha (Glayce). São mulheres que não me deixam desistir, e cada uma ao seu modo, me diz que estou no caminho certo”!

Maria do Céu

Dentre as mulheres que inspiraram, Maria do Céu, destaca a sua avó, Dona Sebastianinha, uma das pessoas mais importantes da sua vida e com quem sempre me se identificou.

“Minha mãe e minhas tias eram mulheres fortes, estudiosas e independentes, lutadoras, que me inspiraram bastante. Uma dessas tias, em especial, chamava-se Verônica, que cursou Psicologia, e em certa feita esclareceu minhas dúvidas acerca da ciência em questão. A partir desse contato, criei uma identificação com a Psicologia”.

Maria lembra da sua Tia Lilita, que pra ela é uma lição de vida, no que diz respeito aos cuidados com o corpo, uma vez que praticava atletismo. “Tia Teca era muito estudiosa, danada, independente… Me criei ao lado dessas mulheres maravilhosas, as quais tomei por referência na minha vida e que me ajudaram na construção da pessoa que sou nos dias de hoje”.

Saindo do campo familiar e adentrando o artístico, Maria cita Rita Lee como sua musa inspiradora. Ela Assistia todas as entrevistas da artista! Sempre admirando sua arte, sua personalidade, seu estilo, sua forma de se comunicar com o público… “Gosto muito dela até hoje, que continua sendo uma roqueira apaixonada, não obstante a sua idade. A Rita faz parte da minha vida desde a adolescência. Comecei a acompanhá-la aos treze anos”.

Crédito: Maria do Céu

Além da referência nacional, Maria se inspira em Madonna, em termos de empoderamento, cita de Roberta Close – de quem leu livros – que, em plenos anos 80, suscitou a discussão em torno da transexualidade. “Ela enfrentou muito preconceito por parte da sociedade, chegando a ser perseguida na saída de casa e vivendo uma série de dificuldades. Mas ainda assim, mostrava-se forte e capaz de superar todos os obstáculos. Ela fez com que existissem muitas mulheres; uma delas, inclusive, em mim”.

E por fim, a grande Olga Benário, pela sua história de luta e sofrimentos. Foi uma mulher que enfrentou o sistema e me ensinou a ser digna, forte e fazer aquilo em que acredito.

Acredito que inspiro outras mulheres pelo fato de que nunca desisto! Quando quero uma coisa, movo montanhas e tenho fé de que vou concretizar o meu objetivo, que geralmente é algo coletivo, capaz de tornar melhor a existência humana no planeta Terra. Portanto, quero servir de inspiração nesse sentido. Quero fazer as pessoas se amarem e serem responsáveis pelas suas existências, por seus corpos, pelos limites impostos a outrem e levar mulheres ao amadurecimento no que diz respeito à liberdade e autonomia.

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