Transtornos mentais podem ser desencadeados por vários motivos: traumas, questões emocionais ou até mesmo fatores genéticos.
Assim como em outras doenças psicológicas, é um evento químico em nosso ambiente interno, que causa desequilíbrios hormonais desencadeando o transtorno.
Portanto, qual o ser humano que está livre de desenvolver um transtorno mental ?
Componentes raciais que afetam a saúde mental nas favelas
O Estado brasileiro tem um histórico marcado por crueldade ao povo negro e seus descendentes. A família preta é perseguida ao longo da história desse país. Desocupações, políticas de embranquecimento da população, migração europeia para ocupação de postos de trabalho no período de industrialização.
A desigualdade social é fator preponderante no desenvolvimento de transtornos mentais em comunidades periféricas. E no processo de aprofundar uma discussão, entender como os mecanismos utilizados na opressão à uma determinada classe/raça se arrastam desde os períodos coloniais.
Os moradores das favelas de Jacaré e Manguinhos são descendentes diretos desse grupo étnico perseguido ao longo da história e carrega consigo traumas de tempos que ainda não eram vividos por eles.
Mágoa, depressão, angústia, ansiedade, abuso de substâncias psicoativas são consequências do adoecimento social causado por traumas, agravados pela situação de desigualdade social, potencializados pelas condições econômicas no país.
Até para aqueles que conseguiram ascender socialmente, ingressar na academia, não estão livres desses traumas. Como explica Neusa do Santos, importante figura intelectual do movimentos negro, em seu livro “Tornar-ser Negro”.
Espaços de acolhimento no Jacaré e Manguinhos
A reforma psiquiátrica em 2001, marca o início de uma nova forma de tratar os pacientes com transtornos psicológicos. Um modelo mais acolhedor, que substitui o antigo modelo asilo-manicomial. Uma forma de tratamento mais humanizada é implementada no sistema de saúde público. Onze anos depois esse tratamento é ampliado, na criação das Redes de Atenção Psicossociais, que começam a integram o sistema único de saúde, o SUS.
Moradores de Manguinhos e Jacaré, favelas da zona norte do Rio, contam com quatro centros de atenção psicossocial para atendimentos sendo: Um CAPS ll em Manguinhos que atende a todas as faixas etárias para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas. Dois CAPS III, localizados nos bairros de Del Castilho e Engenho de Dentro que atende até 5 vagas de acolhimento noturno e observação; todas faixas etárias; transtornos mentais graves e persistentes inclusive pelo uso de substâncias psicoativas. E um CAPS AD III álcool e drogas que atende entre e 8 a 12 vagas de acolhimento noturno e observação; funcionamento 24h; todas faixas etárias; transtornos pelo uso de álcool e outras drogas.
Acesso aos espaços de tratamento
O único caps na região entre as duas favelas é o caps ll Augusto Magal, presente em Manguinhos. A segmentação no atendimento e a distância dos centros de apoio psicossociais trazem dificuldades aos moradores à aderência ao tratamento.
Ainda que os centros de atenção psicossociais sejam lugares adequados e referência no acolhimento de pessoas com sofrimento psíquico, a quantidade de caps ainda é pequena pela demanda existente hoje em dia.
Dessa forma, melhorias na estrutura, atendimentos por 24 hs para usuários em crise, educação continuada de profissionais da saúde, integração com as clinicas da família, participação multidisciplinar são desafios a serem enfrentados na ampliação do serviço.
Como explica Rodolfo (nome fictício), assistente social, do CAPS Magal:
“Parece que tudo é feito pra dar errado, e ainda assim, é uma das poucas coisas que dão certo. – falando sobre atenção e responsabilidade dos profissionais no acolhimento das pessoas.”
Links complementares
https://www.gov.br/saude/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/caps
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/igt/v10n19/v10n19a03.pdf
https://psicanalisepolitica.files.wordpress.com/2014/10/tornar-se-negro-neusa-santos-souza.pdf
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