A primeira chapa para as eleições de 2018 do PT não é a mesma que a atual. O primeiro candidato que o PT anunciou foi Luiz Inácio Lula da Silva, e mesmo estando preso, o ex-presidente do Brasil era uma vontade não somente do Partido dos Trabalhadores mas também do povo, as primeiras pesquisas do IBOPE mostraram a popularidade que Lula ainda tinha no Brasil, o candidato era o político com maior intenção de voto, chegava a 37% deles. Apesar de provavelmente não poder concorrer, as propagandas eleitorais do PT eram voltadas a ele, o lugar de Haddad nesse cenário era de vice-presidente.
O marketing voltado para essa chapa e a aura de esperança deram ao PT um novo respiro, já que o partido estava em decadência após escândalos de corrupção e o golpe contra Dilma Rousseff. As primeiras propagandas eleitorais exploravam a imagem do ex-presidente e o saudosismo de uma parte da população, era colocado em evidência a vontade do povo acima das decisões judiciais. O TSE barrou essa propaganda nos horários eleitorais gratuitos, mas mesmo assim o partido insistiu em exibi-las.
Quando a candidatura de Lula foi descartada, Fernando Haddad foi colocado como o candidato à presidência, e a escolhida para a vice-presidência foi Manuela D’Ávila. Apesar da popularidade da chapa anterior, as pesquisas mostraram que Haddad não era a primeira escolha dos brasileiros, o cenário sem Lula foi de 37% para apenas 4% das intenções de voto, e assim ficou estagnada por algumas semanas. Enquanto isso, o concorrente de centro esquerda, Ciro Gomes do PDT, ficava cada vez mais popular e era o maior cotado para concorrer no segundo turno contra o candidato Jair Bolsonaro.
O Partido dos Trabalhadores percebeu que continuando da forma que estavam agindo não conseguiriam chegar nem ao segundo turno. Assim, foram convocados diversos comícios por todo o Brasil, a imagem de Lula foi colocada ao lado de Fernando Haddad e o slogan “Lula é Haddad, Haddad é Lula” foi estampado em todos os adesivos, bottons, camisetas e em todas as formas de propaganda do candidato. Sua popularidade subiu exponencialmente entre os petistas que votariam apenas em Lula e em setembro as intenções de voto chegaram a 22%. Fernando Haddad ultrapassa o PDTista, Ciro Gomes, e vai para o segundo turno.
O segundo turno está sendo o maior momento de mudança na forma de agir do partido, a cor vermelha, marca do partido na propaganda eleitoral de 2018, foi alterada para as cores da bandeira brasileira. A imagem do ex-presidente Lula e o slogan com seu nome foram retirados de suas propagandas, a vice Manuela D’Ávila teve no pré segundo turno o seu maior momento de destaque nas propagandas. A mudança foi necessária e até um pouco atrasada. Nesse momento, era hora de cativar não apenas os petistas, era necessário conseguir votos daqueles que não votaram 13 no primeiro turno.
Os comícios tiveram apoio de vários partidos, o candidato Guilherme Boulos sempre acompanha Fernando Haddad e constantemente afirma o seu lado nesse cenário, mostrando sempre a tragédia que está sendo anunciada. Nesse momento eleitoral, os candidatos e os eleitores do centro e da esquerda estão em sua maioria apoiando o candidato do PT. Até artistas tem dado apoio nas redes sociais e alguns também subiram no palanque no Ato da Virada que aconteceu no Rio de Janeiro, no dia 23 de outubro.
Fernando Haddad tem sido mais incisivo em suas colocações, ele deixou as meias palavras de lado, e tem tentado ganhar votos dos indecisos e dos que não votaram nele no primeiro turno, mostrando, como cantava Elis Regina, o perigo que há na esquina. Agora, seu caminho deixou de ser apenas o da calma, ele assumiu o papel de líder que era esperado pelo partido e pelos seus eleitores e tem ganhado a simpatia, ou pelo menos o voto, de brasileiros que não queriam votar no PT.
A caminhada de Fernando Haddad está chegando ao fim ou a um recomeço. O certo é que não importa o resultado de domingo, Haddad conseguiu o que parecia impossível no início dessas eleições, ele conseguiu unir eleitores de diversos partidos, conseguiu unir até aqueles que não pensavam que um dia voltariam a votar em seu partido. No final das eleições, os 4% da primeira pesquisa chegou aos 44% na última. A virada nunca esteve tão próxima.