Por Caio Oliveria – Fundador e coordenador Geral do Só Cria e Mario Sergio Soares – Coordenador Pedagógico do Só Cria
O dia 20 de Novembro é simbólico para toda a população negra brasileira. Evocada em 1971, a data foi criada para reverenciar Zumbi dos Palmares, último rei do Quilombo dos Palmares, situado na Serra da Barriga, em Alagoas. A ideia da criação desse símbolo de luta partiu do poeta gaúcho Oliveira Silveira, e deu origem ao Grupo Cultural Palmares, reverberando em algumas partes do Brasil, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Em 1978, o que viria se tornar o MNU (Movimento Negro Unificado), mas ainda com o nome de MNUDR (Movimento Negro Unificado contra da Discriminação Racial) acolhe esta data como uma forma de celebrar a memória de Zumbi dos Palmares e sua luta pela liberdade do povo preto, se contrapondo ao 13 de maio.
20 de Novembro também é um dia para reflexões acerca das condições de vida da população preta e seu histórico de exclusões. Os vestígios da escravidão continuam a perseguir as pessoas pretas, que são colocadas à margem da sociedade em diversos espaços sociais.
No âmbito da educação, a Rede de Educação Popular Só Cria repudia veementemente o posicionamento do atual presidente da República e do seu Ministério de Educação, que estão promovendo o ENEM mais excludente dos últimos anos. Que a Universidade não foi pensada para a população preta, das favelas e periferias é algo que sabemos, mas na última década vinha se pintando, cada vez mais, de povo.
O atual governo, no entanto, caminha em direção ao sucateamento do ensino público, um projeto pensado para atingir principalmente a maior parte da população brasileira, que tem cor e CEP definidos.
No Dia Nacional da Consciência Negra, que esse ano também marca a véspera da primeira etapa da prova do Enem 2022, o que vemos é o retrocesso. Segundo levantamento feito pelo Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), é marcado por uma queda significativa na participação de pretos, pardos e indígenas em relação a prova do ano passado, tendo também uma queda absurda no número de inscritos contabilizados desde 2007.
Esses dados são um retrato do governo Bolsonaro, que como bem disse essa semana: “O Enem começa agora a ter a cara do governo”. Também marcado por interferências e censura por parte do governo, resultando na saída de 37 servidores do Inep responsáveis pelo Enem, às vésperas do exame, fica nítido a falta de responsabilidade política daqueles que deveriam garantir nossos direitos.
Essas ações demonstram o que é um governo anticiência e antipovo, que tem como único intuito manter as relações de opressão e subalternidade do povo preto e pobre que vivem nas favelas e periferias de todo o país. Por meio da precarização do ensino, nossos jovens são jogados a trabalhos cada vez mais precários, tirando a possibilidade de ascensão social por meio do estudo, mantendo-os sempre a serviço de um elite política e econômica, que por muito tempo se incomodou em ver a filha da empregada doméstica virando doutora, e que se depender daqueles e daquelas que estão na luta por uma educação popular, continuará se incomodando.
A educação popular que acreditamos e construímos, entretanto, insiste. Insistimos em vencer, em disputar, em alcançar nossos lugares dentro e fora da Universidade. Venceremos, apesar dos engravatados que tentam nos governar.
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