“Por isso não estranha o descaso com o corpo do pai de família; o polícia assassinado sempre vai justificar a chacina”
(A286, “A comédia dos erros”)
O acontecimento da última sexta-feira, 12, no Jacarezinho me fez pensar nessa música do grupo de rap A286. Em primeiro lugar, por conta da vingança declarada – independente de haver culpados ou não ali, alguém tinha que pagar por isso. Um vídeo circulou pelas redes sociais, em que uma pessoa não identificada gritou com revolta: “Só pega trabalhador”. No país que mais mata jovens negros, vi mais de 40 pessoas, entre homens e mulheres, sendo conduzidas. Foi a segunda vez que vi o helicóptero da polícia de perto, atirando a esmo dias depois – fato comprovado porque até a base da UPP Jacarezinho foi alvejada.
É evidente que a morte do delegado foi trágica, entretanto, matar uma, duas, dez pessoas não vai trazê-lo de volta e nem apagar o vazio que fica entre amigos, colegas e familiares. A morte de um único assassino não diminui o número de assassinos no mundo. No nosso país cristão, tenho percebido que o genocídio do fim de semana é aplaudido e incentivado nas redes sociais, principalmente no Facebook.
Será que é certo, apontar uma arma para uma mulher ou um homem desarmados só porque o militarismo te faz enxergar o outro como inimigo? O braço armado do Estado possui permissão legal para dizimar pobre e preto. Quando os defensores dos direitos humanos intervêm, vemos a ignorância em declarações do tipo “direitos dos manos só defende vagabundo”, “não serve pra nada”. Isso é resultado de uma ideia falsa que foi implantada na cabeça de muitos.
Martin Luther King lutou, Gandhi lutou, Jesus lutou só com o poder da palavra e da não violência. “Olho por olho e o mundo acabará cego”: a classe que tudo produz é a mais violentada. Quando devolvemos a violência, parece que somos nós os verdadeiros monstros.
Termino por aqui e logo menos estarei de volta, porque, enquanto existir injustiça, a voz só cala quando o tiro acertar – pela favela e para as crianças poderem crescer felizes.