A comunicação popular (ou comunitária) é revolucionária. É o caminho para democratização dos meios de comunicação no Brasil e a possível solução para as eternas orientações de partidos e movimentos sociais. “precisamos ouvir as bases”, “Precisamos dar a voz à classe trabalhadora”, “É preciso que favela entenda a conjuntura do Brasil”, entre tatos outros bordões cada vez mais repetidos nas inúmeras reuniões de lideranças na tentativa de enfrentamento ao fascismo e ao neoliberalismo.
Isso tudo porque a comunicação popular vai muito além de informar. Ela estimula a população (e não é só periferia não – ela pode acontecer em ambientes empresariais – os chamados talks colaborativos que resultam em produtos de comunicação, até escolas) a analisar situações, problemas e propor soluções concretas, por meio de projetos e gerando o protagonismo popular.
A revolução que me referi anteriormente é sobre a forma com que os processos comunicativos são encarados pela comunicação popular.
Acolhimento, escuta ativa, educação social, visibilidade aos enfrentamentos e perspectivas de quem vivendo o foto noticiado. Por exemplo em notícia sobre violência em favelas, a mídia tradicional limita-se a relatar o local, quantos tiros, quem morreu e se houve algum prejuízo financeiro, sem contar a história daquele fato, isto é, quem era a pessoa, como a situação chegou aquele ponto e quais soluções possíveis.
Seja por interesses instrucionais, limites técnicos (como falta de espaço na diagramação) e até mesmo falta de conhecimento sobre aquela realidade, resultam em uma imprensa com julgamentos prévios, obedecendo interesses da classe dominante e cada vez mais longe das bases. Eu citei o exemplo de notícias comuns nas favelas, mas qualquer assunto poderia entrar nesse contexto.
Outro exemplo seriam as notícias e reportagens sobre festivais culturais que acontecem fora do eixo centro-sul que são relatados como exóticos, primitivos e subalternos. Esse exemplo pode ser estendido para comunidade de povos originários e tradicionais, para pessoas que vivem suas diversidades em plenitude ou para qualquer assunto que fuja dos padrões estabelecidos para manutenção das polícias de desigualdade e status quo.
A comunicação popular transfere o protagonismo e o olhar da narrativa para quem de fato está participando dela. Isso não quer dizer que necessariamente a comunidade precise escrever gravar e roteirizar o produto de comunicação, mas, sim, ouvir, integrar-se à realidade noticiada, propor o diálogo e, principalmente, sair do lugar de “detentor” de todo saber e estar ao lado dos seus entrevistados, entendendo seus anseios, subjetividades e necessidades.
Somente o protagonismo popular irá aproximar as diferentes realidades do Brasil e será capaz de traduzir a vontade coletiva por democracia, igualdade e combate a toda opressão.
Para “dar voz aos oprimidos,” basta escutá-los. Mas, escutar respeitando autonomia, conhecimento e vivências e respeitando seus espaços.
E a comunicação popular pode ser o caminho para essa mudança.