Foi encerrado em 16 de novembro o prazo para a matrícula de crianças de 1 a 3 anos e 11 meses de idade nas creches da rede pública do Rio, para o ano letivo de 2018. O período traz à tona, mais uma vez, as questões ainda não resolvidas relacionadas a esses e outros espaços de educação da cidade: faltam vagas, há fila de espera e, em algumas localidades, faltam itens básicos. Mães, pais, responsáveis e funcionários vivem diariamente a luta pela educação e pela sobrevivência dos pequenos.
A falta de vagas nas creches municipais é um problema antigo. A decisão da Secretaria Municipal de Educação, Esportes e Lazer de autorizar a matrícula de crianças em creches conveniadas ou privadas para ampliar o número das vagas oferecidas se apresenta ainda como outra problemática. As creches conveniadas recebem verba da Prefeitura para suprir a demanda e atender crianças que não podem ser alocadas na rede pública. Existem 158 unidades do tipo no Rio.
De acordo com um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 2016, estima-se que o custo médio mensal por criança, realizando as quatro refeições diárias prometidas, é de R$ 850, valor bem acima do oferecido. Hoje, o baixo valor pago pelo município, de R$ 300 por criança, é insuficiente para oferecer as necessidades básicas a elas. Isso coloca em risco o aprendizado e a saúde, assim como a integridade das próprias instituições, que podem fechar as portas.
Familiares têm visto isso na prática, pois, muitas vezes, falta de tudo. “Nós, pais e avós, algumas vezes temos que juntar forças, mesmo recebendo muito pouco de salário e aposentadoria, e ajudar com mantimentos das crianças, senão elas ficam sem”, explica a avó de um aluno de uma creche comunitária na Cidade de Deus, que preferiu não se identificar.
Com três meses de atraso e ainda longe do ideal, o prefeito Marcelo Crivella assinou em 9 de outubro um convênio que dobra a verba fornecida para R$ 600. Apesar da boa notícia, familiares e funcionários contêm a animação. “Sabemos que o governo está cortando gastos e que as dívidas só aumentam. Não sabemos até quando isso vai durar, mas precisamos que dure. Só assim eu posso sair para trabalhar e botar comida na mesa”, conta a mãe de outro aluno de uma creche também da Cidade de Deus.
“Publicado na edição de dezembro de 2017 do Jornal A Voz da Favela”.