Não gosto de repetir tema, mas o atual governo da cidade do Rio de Janeiro me impede. A cada semana, a sensação de depressão, desesperança e incerteza aumenta nessa que já foi uma Cidade Maravilhosa. Temos um prefeito que se vale do seu talento de manipular massas através de factoides e frases de efeito de caráter duvidoso – que já mostrava a que vinha desde o início do mandato, quando se ausentou da entrega da chave da cidade ao Rei Momo no carnaval.
Sou da área da cultura. Desde os primeiros dias do governo municipal atual, participei do movimento Paga o Fomento, Prefeito!, que exigia o cumprimento do pagamento de R$ 25 milhões destinados a diversos coletivos de cultura. Filmes, shows, peças e produções de diversas outras linguagens tiveram que ser canceladas, deixando de empregar muitas pessoas.
Desde o anúncio oficial do calote, a política cultural da cidade do Rio de Janeiro só afunda num mar de lama. Depois do vídeo pavoroso que o dublê de prefeito exibiu em suas páginas das redes sociais, em que vetava a exibição da mostra Queermuseu no Museu de Arte do Rio – MAR e afirmava que o “povo do Rio de Janeiro não quer exposição de pedofilia e zoofilia”, nos iludimos de que seu fundamentalismo religioso daria uma trégua – mas o bispo nos deu outro golpe.
Semana passada, a Secretaria Municipal de Cultura cancelou uma exposição e uma peça de temática LGBT no Castelinho do Flamengo, que é um equipamento cultural da Prefeitura do Rio. A ação aconteceu em pleno “Mês da Diversidade”, cujo objetivo, segundo a SMC, seria promover o respeito à comunidade LGBT. O cancelamento se deu sob a justificativa inacreditável de pane elétrica no local, porém, a produção do evento entrou em contato com a Light, que constatou que não havia problema algum.
O fato foi o suficiente para reunir centenas de pessoas na porta do Castelinho, onde fizeram uma ocupação relâmpago. Oito obras de exposição Curto-Circuito sumiram inexplicavelmente, sem nenhuma justificativa oficial da sra. secretária de Cultura do Rio de Janeiro Nilcemar Nogueira. Passados quatro dias do cancelamento da exposição, a produção da mostra e da peça não sabem sequer se a programação será exibida em outro local.
Após esses ataques às artes e à cultura, os artistas plásticos da exposição Queermuseu, que foi cancelada em Porto Alegre, anunciaram que vão processar o prefeito da cidade por calúnia e difamação. As mesmas medidas serão tomadas contra o prefeito de São Paulo João Dória, que disse que via indícios de pedofilia na performance “La Bête”, do artista carioca Wagner Schwartz.
Na próxima quinta, 12, a classe artística do Rio de Janeiro realiza um grande ato cultural na Praça Mauá, em frente ao MAR, contra toda forma de censura. A cultura não vai se calar.