Dias após o brutal assassinato da família do músico Evaldo, em que o exército deu 80 tiros no carro porque o veículo foi confundido com o de suspeitos, resolvi escrever sobre o nó na garganta que isso me causou. Corpos negros são matáveis, são passíveis de todas as violências e as autoridades dizem que de fato isso poderá ocorrer, uma vez que se trata, supostamente, do combate ao crime.
É dolorido morar num país em que é natural que as forças armadas atirem 80 ou 111 vezes num carro cheio de gente negra, pois somos sempre bandidos em potencial. É perverso ver que socialmente autoriza-se nos matar, que é normal corpos negros estendidos no chão, que o nosso destino é morrer cedo porque somos “perigosos” sempre. E hoje mais uma vítima morreu por inconsequência dessas forças armadas.
Ontem li uma matéria que dizia que a cada 6 horas a polícia militar do Rio de Janeiro mata alguém e não por coincidência uma pessoa negra. A polícia existe para reprimir e tirar vidas; não se trata de segurança pública, mas se trata de defesa da propriedade privada, com discurso que querem assegurar a população. Dói demais saber que o fato de existirmos nos torna um possível alvo dessa polícia assassina, porém, sigo esperançosa e na batalha para vivermos num mundo melhor e de uma coisa estou certa: sairemos vitoriosos.