Semana passada a elite brasileira deu mais uma demonstração do quão egoísta, indiferente, sem empatia ela é. De como é composta por pessoas que visam apenas seu bem estar, ignorando completamente os que estão a sua volta. Mas este comportamento elitista não é nenhuma novidade ou surpresa e só nos causou indignação devido ao período pandêmico que estamos vivendo.
Desde junho de 2013, a elite brasileira vem dando claras demonstrações de insatisfação com algumas conquistas obtidas pelas minorias. E ela fez questão de confirmar o quão insatisfeita está em dois momentos que, infelizmente, ficarão para história do país. E estes momentos são o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em agosto de 2016, e a eleição do atual presidente Jair Bolsonaro, em outubro de 2018. Ambos executados à base de muito ódio, indiferença, antipatia, insensibilidade, perversidade, crueldade, mentiras e muitas fake news, as chamadas notícias falsas.
Ao se verem representados após as eleições, os elitistas trataram de mostrar o quanto têm total desprezo pelas classes menos favorecidas. Ataques nas redes sociais com ofensas racistas, machistas, homofóbicas e preconceituosas aumentam a cada dia, e a cada declaração também ofensiva de Bolsonaro, seus apoiadores ficam ainda mais agressivos. E se mostram tão cheios de certeza da impunidade que chegam a atacar autoridades, desde policiais militares e guardas municipais a juízes do Supremo Tribunal Federal (STF).
Como já havia dito em outras oportunidades, o problema nunca foram as pedaladas fiscais cometidas pela Dilma, ou sítio e o triplex em nome do ex-presidente Lula, ou a corrupção do PT. O que incomodou na verdade a elite brasileira foi o fato de ter que dividir seus espaços com a base da pirâmide. Ver tanta gente preta, favelada e periférica sair da subserviência e ter que pagar direitos às empregadas domésticas. Isso para eles foi um verdadeiro escárnio.
Com o surgimento de Jair Bolsonaro, prometendo acabar com todas as conquistas obtidas pelos mais pobres, procuram elegê-lo e convencerem seus subordinados a votar nele, pegando pelos pontos mais fracos, como família e religião. Com um representante à altura eleito, e depois de empossado, dando fim a todos os benefícios conquistados nos governos Lula e Dilma, os elitistas trataram de destilar todo ódio que tinham acumulado tripudiando sobre aqueles que veem como inimigos.
Com pouco mais de um ano de governo Bolsonaro, o Brasil, que já estava enfrentando uma grande crise econômica desde o ano de 2014, se viu tendo que encarar uma maior ainda. Em março deste ano a pandemia do novo coronavírus chegou ao país, e como todos nós sabemos, ela entrou em terras brasileiras pelos aeroportos e chegou fazendo sua primeira vítima fatal. Uma senhora de 63 anos, que trabalhava como doméstica, foi infectada por sua patroa que havia chegado da Europa. Mesmo sabendo que estava infectada pelo vírus, a mulher não dispensou a empregada, que era do grupo de risco e veio a falecer logo em seguida.
A pandemia, que abala economias fortes de países ricos, e está expondo todas as mazelas que há no planeta, não está sendo diferente aqui. Mas em nosso país o coronavírus não mostra apenas a pobreza e a miséria, mostra também a grande quantidade de cidadãos brasileiros racistas, machistas e preconceituosos que há em nossa sociedade. O vírus escancara todas as faces cruéis da elite, que não se incomoda nem um pouco de exibir toda sua frieza e falta de empatia com o próximo.
Desde o início da quarentena imposta pelos órgãos de saúde, muitos desrespeitam o isolamento social e as medidas de proteção designadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), baseando-se pelas declarações e atitudes polêmicas e inconsequentes do presidente Bolsonaro. Vão para as ruas fazer aglomerações, não mantendo o distanciamento e sem usar máscaras de proteção. Mantém suas empregadas domésticas trabalhando em suas casas, mesmo a profissão não fazendo parte dos serviços essenciais. E toda essa falta de respeito e negligência é apoiada pelo chefe maior da nação, que faz questão de participar de todas as manifestações feitas por seus apoiadores e seguidores.
Não a elite brasileira não está preocupada com o próximo e, muito menos, com um país mais igual e justo para todos. No início do mês de junho vimos mais um episódio de crueldade que os elitistas são capazes de cometer. A morte do menino Miguel chocou a todos nós, que ficamos perplexos ao ver a frieza e falta de empatia da patroa de sua mãe Mirtes. Sari Côrte Real, abandonou a criança de apenas 5 anos, sozinha no elevador do prédio, sem se importar nem um pouco quais seriam as consequências do seu ato. E a irresponsabilidade dela foi praticada desde o momento em que manteve sua empregada trabalhando, sem respeitar a quarentena. Em uma entrevista dada ao programa Fantástico, da Rede Globo, no último domingo, ela demonstrou o quanto nada do que aconteceu a abalava e foi totalmente fria, calculista, e sem a menor empatia pela criança e pela sua mãe, disse que fez tudo que pode para o menino sair do elevador e retornar para o apartamento. Mas, as imagens das câmeras a contradizem e o depoimento de sua manicure também que afirmou que Sari, após o acontecido, retornou para terminar de fazer as unhas, enquanto tentava ligar para mãe da criança.
Este fato, foi mais um que extrapolou todos os limites da maldade cometida pelos burgueses deste país. E ao pagar 20 mil reais de fiança na delegacia, provou que para eles, a vida dos cidadãos menos abastados não vale nada, que qualquer quantia paga a dor da perda que seus familiares sentem. É como se a morte trágica de um menino de 5 anos, fosse só mais uma para entrar para as estatísticas. É como se fosse mais um número para acrescentar na enorme lista.
E quando mal estamos digerindo um acontecimento como esse, eis que eles cometem mais um ato de total falta de respeito e de amor com o outro semelhante. Com o afrouxamento do isolamento social determinado pela prefeitura do Rio de Janeiro, parte do comércio voltou a funcionar com algumas restrições de atendimento. Muitos donos de bares e restaurantes também reabriram seus estabelecimentos, mantendo o distanciamento e todas medidas de proteção para evitar a maior contaminação pelo coronavírus. Não podendo também haver aglomerações nos locais.
Mas, no último final de semana, vídeos circulavam na internet de um bar no Leblon, Zona Sul da cidade, completamente lotado, com pessoas brindando o “fim da quarentena” e debochando da pandemia. Em outro local, um bar na Barra da Tijuca, Zona Oeste, pessoas que foram orientadas pelos fiscais sanitários e a Guarda Municipal a saírem do estabelecimento por estar superlotado, insultaram os agentes, tentando os expulsar, usando palavras de ordem, xingamentos, em uma total falta de respeito com os profissionais, que se mantiveram inertes, sem a truculência como agem com camelôs e vendedores ambulantes nas ruas.
Para resumir as cenas com atos e atitudes irresponsáveis e inconsequentes, cometidas pela elite do Leblon e da Barra da Tijuca, em plena crise sanitária e pandemia, a frase mais adequada que foi dita por um empresário paulista de Aphaville, que insultou e expulsou um policial militar de sua mansão aos gritos e xingamentos. A agente tinha ido atender um chamado de uma mulher que estava sendo agredida pelo marido. E o mesmo recebeu o PM com agressividade, o enxotando falando que ali em Alphavile, onde vivem as pessoas da alta sociedade, pode-se tudo e muito mais. Eles não têm limites e não se sentem limitados, pois possuem dinheiro e poder.
Na Zona Sul do Rio de Janeiro e na Barra da Tijuca, não é diferente. Eles também não se importam com o próximo, não têm a menor empatia e muito menos respeito por quem quer que seja, como vimos em uma das cenas dos vídeos gravados nos bares. Pessoas aglomeradas, não usando máscaras de proteção, agredindo agentes públicos, os intimidando até, como fez um casal, com mulher chegando dizer que seu marido não era um cidadão, mas sim, um engenheiro civil formado e melhor posicionado do que o fiscal sanitário, ignorando a ordem do profissional de deixar o local.
Essa é a elite brasileira que sempre existiu em nossa sociedade. Nenhuma dessas atitudes e desses atos deveria ser visto ainda como novidade, mas sim, refletido para que severas mudanças se produzam, porque que queremos um Brasil mais justo e igualitário para o povo.