Como será o amanhã para o planejamento urbano brasileiro?
No dia 31 de agosto, o Senado Federal aprovou o impeachment da presidenta Dilma Rousseff por 61 votos favoráveis e 20 contrários. Michel Temer, até então presidente interino, assumiu de vez a presidência do país. Antes de receber a faixa presidencial, Temer fez mudanças significativas, como um “novo velho” quadro de ministros e até ameaça de extinção do Ministério da Cultura. Se a conjuntura não demonstra avanços, há questões cada vez mais pertinentes ganhando espaço nesse momento: o funcionamento das cidades e das favelas nas questões ligadas ao planejamento urbano está no rol das alterações.
“Creio que se a proposta da nova administração for focada no interesse público, ela, no mínimo, deveria fortalecer as relações participativas na decisão do desenvolvimento urbano da cidade”, pontua o arquiteto urbanista Rodrigo Bertamé, mestrando em Urbanismo pela UFRJ e morador de Irajá.
Para ele, cada favela é um universo repleto de peculiaridades e inserir os moradores na discussão do planejamento urbano seria uma boa solução para as dificuldades. “Temos que potencializar o próprio morador com os instrumentos e as práticas urbanas e arquitetônicas, além de aprender com eles, porque eles já constroem seus lugares por conta própria sem o poder público. A maior parte dos problemas urbanos das favelas tem mais relação com a falta de diálogo”, afirma.
Privatizações e falta de investimentos
Lino Teixeira, arquiteto urbanista e cartógrafo do Observatório de Favelas reforça: “No que se refere a grandes infraestruturas na escala territorial, diferente do que vinha ocorrendo nos últimos dez anos, tudo indica que assistiremos a um processo de privatização de serviços e empresas públicas. Esse processo nos leva à perda de autonomia e soberania na política externa. Isso ainda enfraquece os blocos econômicos que vinham sendo desenvolvidos e que estão intimamente ligados à infraestrutura”. Ele não arrisca fazer previsões para a esfera municipal por conta da indefinição do pleito eleitoral de 2016 para a Prefeitura. “Mas, em caso de vitória da situação, nós teremos esse quadro descrito anteriormente ocorrendo de maneira mais acentuada também no município do Rio de Janeiro”, pondera.
Na maioria das favelas, onde se concentram um grande número de pessoas que fazem a roda da economia da cidade girar, ainda não se encontram práticas que melhorem a sua infraestrutura. ‘’No máximo, os políticos asfaltam algumas ruas. Fora isso não vejo mais nada’’, analisa Henrique de Oliveira, 26 anos, morador da favela de Acari. Com o atual presidente em exercício, parece não haver muita expectativa: “Sinto pena por mim e pelos demais que irão sofrer o peso desse mandato”, conclui o jovem.