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Créditos: Daniel Ramalho / ANF

 

“A favela tem muita cultura. A cultura da favela é afirmação”. Com estas palavras, o fundador da Agência de Notícias das Favelas André Fernandes abriu o evento “A Cultura da Favela na Ocupa”, que celebrou a produção artística das comunidades com debate e muita música em uma das últimas grandes do Ocupa MinC RJ, desocupado na manhã desta segunda-feira pela Polícia Federal.

A cultura da favela foi o tema de um bate-papo, com mediação de André Fernandes,  entre artistas e produtores culturais de diversas comunidades do Rio de Janeiro. Participaram do debate a poetisa, socióloga e candidata a vereadora pelo PCdoB Viviane de Sales (Cidade de Deus), o cordelista José Franklin (Complexo do Alemão), a produtora cultural e cineasta Sandra Lima (Rio das Pedras) e Cléber Araújo (Complexo do Alemão).

 

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O fundador da ANF André Fernandes mediou o bate-papo (Créditos: Daniel Ramalho / ANF)

 

À frente de eventos como o Poesia de Esquina, sarau que movimenta a Cidade de Deus, Viviane de Sales afirmou a força da produção artística da favela e a o novo status que a cultura local ganhou nos últimos anos. Ela lembrou dos quase 200 de saraus e rodas de rimas que acontecem na cidade e das formas de produção que tornam possível que a cultura periférica seja uma realidade:

– Muitas vezes, a cultura da periferia não era considerada importante. Hoje, as pessoas já reconhecem que todo trampo é válido. É importante pensar em como olhar para essa cultura e dizer para o governo que ela tem o mesmo valor que os lugares de referências que já conhecemos.

 

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Viviane de Sales (Créditos: Daniel Ramalho / ANF)

 

José Franklin, um dos poucos cordelistas em atividade na região onde mora, aproveitou o espaço para deixar sua arte falar por si ao recitar parte da obra “Olimpíadas no Complexo do Alemão”. Mas também deixou um recado tão curto quanto direto:

– A única solução para o Complexo é a cultura.

A produtora Sandra Lima contou um pouco de sua trajetória e falou de sua luta para produzir por mais de 20 anos projetos culturais sem apoio de empresas ou do governo. Ela citou a falta de união com um dos entraves para a produção cultural nas favelas:

– Os articuladores das favelas não se unem, as pessoas não se conhecem. Falta um apoio mútuo. Quando a gente produz cultura, a gente faz pra todo mundo, não só pra gente.

 

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Os participantes ouvem a fala de Sandra Lima (Créditos: Daniel Ramalho / ANF)

 

Em fala veemente, Cléber Araújo instigou o público presente a pensar na ideia de convicção e partilhou as experiências positivas do projeto independente Favela Art, que toca com a artista Mariluce Mariá e promove atualmente a pintura de 80 espaços do Complexo do Alemão com participação de 180 crianças da favela.

– Nós não nos vendemos para edital porque não nos vendemos para ninguém. Vivemos dentro das nossas convicções, daquilo que acreditamos. Acreditamos que a cultura é a única saída para tantos jovens e crianças. Quando se mata a cultura, o povo também é morto – disparou Cléber.

O evento contou ainda com intervenções artísticas de poesia e música da coordenadora da Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj) Neuma Carneiro e da cantora e ativista Luciana Pedroso.

Um show com o MC Galo e a festa Black Santa encerraram a noite, agitando o pilotis do Palácio Capanema até a madrugada.

 

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Créditos: Daniel Ramalho / ANF