A favela não entra?

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Eleições chegando, horário político já quase no fim de suas apresentações, entrevistas com candidatos já foram quase todas concluídas também, os veículos de comunicação já estão finalizando a apresentação dos debates entre os mesmos. Várias promessas, que os candidatos chamam de propostas de governo, diversas acusações de um candidato para outro ou de uns candidatos para outros. Todos têm soluções mirabolantes para combater os males que assolam o Brasil à décadas e aqueles que estão enraizados a alguns séculos, mas ainda não descobriram a cura exata eles.

E em meio de tanta falação do tipo “ se eleito, eu prometo” … “a minha proposta de governo” …, não vejo tantos candidatos propondo ou até mesmo prometendo, algo para melhoria das favelas, pois, a maior parte dos eleitores estão nestas áreas. Eles estão agindo ainda como se estivessem no tempo em que favelados não sabiam que tinha vez e muito menos voz para exigir e lutar por seus direitos. Ignoram aqueles que movimentam uma parte bem considerável da economia deste país. Para eles é como se a favela fosse um local à parte, um planeta bem distante do nosso sistema solar, que só deve ser lembrado em suas propostas de governo quando sai algo de muito negativo na mídia que possa, como se diz na gíria, “queimar o filme” do Brasil lá fora.

Venho de um tempo, não tão distante assim, que políticos subiam os morros, entravam nas favelas planas para fazerem suas promessas de campanhas, ouvirem alguns poucos pedidos de moradores, mas, mesmo que fosse contra suas vontades, iam até lá para satisfação, senão de todos, pelo menos de alguns. E é claro, quando eleitos, desapareciam e só tornavam aparecer quatro anos depois para fazer novas promessas.  

Sei que ainda é assim, que nada mudou tanto, não sobem mais os morros para prometerem mundos e fundos, mas continuam vendo favelados como inimigos, e no período de seus mandatos, para confirmar para que foram eleitos, colocam em prática um de seus projetos de governo favorito, que é o envio da Polícia Militar (PM) para representá-los, é a presença do Estado “armado”, mostrando aos eleitores da favela o que significam para eles, usando aquela velha desculpa do combate às drogas, pois é a única forma que sabem usar para agradecer pelos votos. E é colocando todo seu poder de fogo a prova que os candidatos quando eleitos lembram das “comunidades carentes”, como gostam de chamar. Sem planejamento algum, não se importando com nada e quantas famílias irão chorar, quem será atingido, se é marginal ou inocente, ou até mesmo uma criança, o importante mesmo é mostrar para uma parcela da sociedade que algo está sendo feito para seu conforto, segurança e proteção.

O mundo mudou e muito, se digitalizou, se globalizou, e aqui no Brasil, em especial, aqui no Rio de Janeiro, os políticos ainda não compreenderam que a favela não é mais aquela área de muitas pessoas ignorantes, que mal conheciam seus direitos, de casinhas muito humildes, feitas de barro e iluminadas por luz de candieiro. Ela também acompanhou, e segue acompanhando essas mudanças, com uma boa parte expressiva de seus moradores engajados e conscientizados socialmente e politicamente de seus problemas estruturais e de que é preciso e necessário para solucioná-los.  

Mesmo com essa conscientização, ainda sim, há muitas coisas a serem feitas para melhorias das favelas, como por exemplo, saneamento básico. E, mesmo sabendo que eles não se preocuparam até hoje em sanear áreas nobres da cidade do Rio, como Leblon e Ipanema, que em pleno século XXI, ainda despejam boa parte de seu esgoto no Canal Jardim de Alah e nas praias, e nem com a Barra da Tijuca, que ainda não é totalmente saneada e despeja seus dejetos nas Lagoas da Tijuca e a de Marapendi, entre outras existente no bairro e também no mar, sendo que, saneamento básico é uma medida de urgência em qualquer local do planeta. Bem, como o saneamento de áreas nobres já é um outro assunto para ser discutido em um outro momento, portanto, sigo falando que hoje a favela sabe discutir de igual para igual, os favelados estão conhecendo mais os seus direitos e sabendo se posicionar em debate. Querem ser ouvidos como cidadãos trabalhadores e cumpridores de seus deveres que são, não toleram mais falácias e nem muito menos falsas promessas.

Com o mundo globalizado, não dá mais para os políticos ignorarem a existência das favelas no período eleitoral e depois que tomarem posse, resolver todos os problemas existentes com invasão de homens fardados, fortemente armados, promovendo uma verdadeira guerra civil. Esse tipo de medida medíocre já deveria ter sido mudada. Com números crescentes de pessoas faveladas informadas e informatizadas, é necessário que entrem com políticas sociais, como por exemplo, invadir com muito mais projetos culturais, educação de qualidade, para que se tenha cada vez menos pessoas sem perspectiva de vida ou alternativas, buscando a solução no caminho da marginalidade.

Essa mudança de comportamento, fizeram com que a cada eleição aumente os números de candidatos  moradores de favelas. Nas eleições de 2018, em especial, esses números cresceram muito em relação às anteriores, e isso só demonstra o quanto favelados estão muito mais participativos nas questões sociais e políticas do país, furando bloqueios, ocupando espaços, ainda que seja com muitíssima dificuldade, há uma determinada “representatividade” no meio político.

Mas, à de se convir, que esse engajamento político social, só se deu após a entrada de uma quantidade expressiva de pessoas faveladas nas universidades. Com a ampliação de seus conhecimentos, passaram a ter uma outra visão em relação favela, a vida lá dentro e o que é ser favelado dentro de uma sociedade ainda muito elitista, preconceituosa, racista, machista e separatista, de como enfrentar todos esses obstáculos para ter que alcançar seus objetivos .

O ingresso na faculdade despertou em muitos o desejo de mudanças para melhor dentro de suas “comunidades”, e é por isso que não se pode mais deixá-las de fora das propostas dos candidatos que estão concorrendo às eleições. Eles devem sim continuar subindo morros, entrando em favelas planas, mas agora não mais para fazerem apenas promessas, e sim, para debater, ouvir o que os favelados têm a dizer sobre suas áreas, o que realmente precisa ser feito, discutir assuntos elementares como segurança, educação, saúde, transporte, moradia, entre outros. Já que todos estão falando muito em “inclusão”, é hora de pô-la em prática, começando pelas propostas de governo. Uma boa dose de interesse e diálogo durante as campanhas, seria mais fácil para encontrar caminhos que levem à solução de boa parte dos problemas existentes nas favelas e daria um pouco mais de esperança aos moradores, que passariam a acreditar em possíveis dias melhores e que os mesmos virão e permanecerão dentro de suas “comunidades”.

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Carla Regina
Sou estudante do último período da faculdade de Jornalismo, gosto muito de ler e de escrever. Me acho simpática, pelo menos é o que me dizem as pessoas quando me conhecem, mas creio que eu seja sim, pois adoro fazer novas amizades e conservar as antigas. Comunicativa, dinâmica e muito observadora, um tanto polêmica. Gosto muito de trabalhar em equipe, mas, dependendo da situação, a minha companhia para trabalhar também é ótima. Pois, na minha opinião, a solidão aguça a criatividade, fazendo com que a mente e os pensamentos fluam um pouco melhor. Comecei a trabalhar muito nova, ainda quando criança e já fiz muita coisa na vida, mas meu sonho sempre foi ser Jornalista e Historiadora, cheguei a ter muitas dúvidas de qual faculdade cursar primeiro, já que para mim as duas carreiras são maravilhosas. Então, resolvi entrar primeiro para o Jornalismo e no decorrer do curso percebi que cursar a faculdade de História não era só uma paixão, mas também uma necessidade para linha de jornalismo que que pretendo seguir. Como sou muito observadora e curiosa, as duas profissões têm muito a ver com minha pessoa. Amo escrever e de saber como tudo no mundo começou, até porque. tudo e todos tem um passado, tem uma história para ser contada.