A equipe de transição chefiada por Geraldo Alckmin está avisada de que Jair Bolsonaro não vai passar a faixa presidencial no dia primeiro do ano, fiel ao seu estilo casca grossa mal educado – o estilo é o homem, dizia o escritor francês Jean-Louis Leclerc de Buffon, no século 18, e o aforismo desafia o tempo, Bolsonaro não irá ao palácio, não entregará nada a Lula, pois se até hoje não admitiu sequer que foi derrotado; pelo contrário, armou um circo nas estradas e nas portas dos quartéis, cujos atores estão cada dia mais desanimados, decepcionados mesmo.
E como o estilo é o homem, Bolsonaro voltou as costas aos que insuflou contra o STF, deixou-os à própria sorte, bem como seus organizadores e patrocinadores. O capitão não é bom comandante, ou estaria preocupado com o destino dos caminhoneiros e das pessoas comuns que mobilizou para suas manifestações. Imagino quantas dessas pessoas ainda acreditam que Jair Bolsonaro vai dirigir-lhes uma palavra de entusiasmo ou de conforto, mandar um recado tipo “valeu, gente, calculei mal o salto e me esborrachei, desculpaê”. Seria um pingo de honestidade no mar das rachadinhas.
Isso não a aconteceu no tempo devido, ou seja, logo depois da derrota, quando os fatos ainda estavam fresquinhos, hoje o asfalto se fez lama sob rodas de caminhões e acampamentos à entrada de quartéis. Dizem que Bolsonaro chorou na recente solenidade militar porque viu a dimensão do abandono a que está relegado as lágrimas que faltaram durante toda a pandemia em que o país inteiro pranteou seus quase 700 mil mortos.
Folgo em dizer que a ausência de Jair Bolsonaro na posse de Lula preencherá uma lacuna. estão previstas 300 mil pessoas na festa do dia primeiro, os hotéis de Brasília e das cidades satélites estão com 90% de reservas, o Parque da Cidade abrigará 150 mil pessoas num enorme camping improvisado, 40 artistas e grupos se apresentarão de graça em palcos montados para a ocasião. Finalmente, Janja e sua equipe decidem que entregará a faixa presidencial a Lula na rampa do Palácio do Planalto. Pode ser uma liderança indígena, uma negra, a primeira pessoa vacinada contra a Covid no país – ou todo mundo junto!