O Brasil e o mundo assistem a uma inédita mobilização em defesa do direito do ex-presidente Lula disputar a eleição deste ano. Faltando uma semana para o julgamento em segunda instância da sentença contra ele proferida pelo juiz Sérgio Moro, um manifesto em apoio ao ex-presidente já reuniu mais de 200 mil assinaturas em todo o mundo, com a adesão de personalidades como o cineasta Oliver Stone, os ex-presidentes Pepe Mujica e Cristina Kirchner, o vencedor do Prêmio Nobel Perez Esquivel, entre outros.
Uma série de atividades e mobilizações de massas estão marcadas em Porto Alegre e várias cidades do Brasil e do exterior para a semana do julgamento. Como parte deste esforço, realizou-se nesta terça-feira no Rio de Janeiro um ato com a presença de cerca de mil pessoas no Teatro Casa Grande, onde artistas, intelectuais, lideranças políticas e personalidades se reuniram em defesa da democracia e do direito de Lula ser candidato.
A esta altura, está claro que o processo contra Lula é um julgamento político. Já existem suficientes provas de que o ex-presidente não só não é dono do tal apartamento triplex no Guarujá como também nunca o utilizou nem obteve qualquer benefício na negociação do mesmo. Não é disso que se trata a ação movida contra ele. Trata-se de consolidar o golpe que começou com o impeachment sem provas da ex-presidenta Dilma Rousseff. A agenda de retrocessos e perda de direitos estabelecida a partir do golpe não tem apelo nem respaldo das urnas, então é preciso tirar das urnas o nome de Lula – franco favorito nas pesquisas eleitorais – por força de uma sentença judicial.
O problema é que a condenação de Lula conduzirá a democracia brasileira a um impasse de difícil solução, um beco sem saída, não somente para o PT e a esquerda, mas para o próprio exercício da política no Brasil. Mesmo as lideranças da direita com um mínimo de esclarecimento e sensatez sabem que, com Lula condenado, o descrédito da população para com a política tende a se aprofundar, e será muito difícil construir mais adiante qualquer pacto de governabilidade que reconduza o país a uma normalidade institucional.
O pano de fundo do projeto desestabilizador que envolve mídia, Judiciário, Polícia Federal e Ministério Público é desacreditar a própria política e suas instituições. Uma sentença que tire Lula do jogo eleitoral condena também, por tabela, os seus adversários. No mínimo, tira muito da legitimidade de qualquer resultado de uma eleição sem ele. Não à toa, importantes interlocutores da direita, inclusive o ex-presidente FHC, já declararam que seria melhor “derrotar Lula nas urnas”. Mas a mídia e o Judiciário parecem estar dobrando a aposta e jogam suas fichas na radicalização judiciária do golpe. Quatro juízes tomam uma decisão em nome de milhões de brasileiros.
O cenário é dramático, e a confirmação da sentença contra o ex-presidente no TRF-4 é dada como certa. A tendência hoje é Lula chegar à disputa eleitoral enfrentando, além de toda a ofensiva midiática, ameaças de prisão e de cassação do registro de sua candidatura.
Mas Lula não é um político ou um candidato comum. Ontem, no Casa Grande, e em diversos momentos desta cruzada recente, fica claro que estamos diante da maior liderança popular construída ao longo dos últimos 50 anos da história do Brasil e do maior líder de massas vivo no mundo hoje. Ele consegue agregar tanto a parcela mais avançada da elite cultural e intelectual do país como também dialogar com a cabeça e o coração dos setores populares. Há momentos em que somente a mística dos grandes líderes pode fazer a diferença diante da força do poder e do poder da força. E essa é a hora e a vez de Luiz Inácio Lula da Silva. Seu destino, mais uma vez, se encontra entrelaçado com o futuro do Brasil.