Os tempos estão difíceis. Mas podemos afirmar sem sombras de dúvidas que os tempos estão impossíveis nas favelas. Todos os dias, principalmente nas duas últimas semanas, vimos na grande mídia tiroteios generalizados em várias favelas do Rio de Janeiro. Várias operações policiais pareciam ocorrer ao mesmo tempo porque, quando não eram noticiadas na grande mídia, nas redes sociais também acompanhávamos o que estava acontecendo.
Me peguei tendo a impressão de que realmente a situação estava generalizada, mas depois caí na triste realidade: isso sempre aconteceu. Tiroteio na favela é cotidiano. Bala perdida é achada em quem não tem qualquer envolvimento com nada. O caso da menina da escola da Pavuna é mais um exemplo dessa guerra desenfreada. E, mesmo assim, ainda sobre essa triste vítima, já há a discussão sobre se foi realmente bala perdida, já que Maria Eduarda foi morta com três tiros.
Em meio a esse caos, é fundamental lembrar da importância da mídia alternativa, principalmente com a existência de uma Agência de Notícias das Favelas. É um canal importante para mostrar ao mundo tanto as atrocidades quanto as boas novas (sim, elas existem nas favelas!) que coexistem em nossos espaços. É como ter a mídia ao nosso lado, já que por anos a fio, a outra parte – a grande imprensa – tratou de construir e engessar um estereótipo de favela/favelado que ainda hoje permanece e que acaba por compactuar com tudo que acontece de ruim por aqui.
Ter uma agência voltada para nós favelados, construída também por nós – afinal, essa que vos fala é também favelada -, é uma forma de finalmente ter voz e espaço para expor o que acontece na favela a partir de quem conhece e convive. É poder construir juntos soluções para as mazelas que nos assolam pelo simples fato de viver onde vivemos.
Meu desejo é que a ANF permaneça por muitos anos vigilante ao nosso lado e que ainda haja alguém que possa finalmente, depois de tanto pedidos, depois de tantas vidas perdidas, escrever aqui que na favela a paz reinou. Será uma utopia? Que seja. Tantas coisas nesse mundo um dia já foram consideradas impossíveis e hoje são comuns ao nosso cotidiano… Que sigamos perseguindo o sonho!