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Esses dias eu acordei, abri a janela e contemplei. Já são mais de 10 dias seguidos que tenho vivência aqui, em outro continente. Todo dia novas perspectivas surgem e fico imaginando o que fazer com toda essa experiência ao regressar para o Brasil.
A maioria dos lugares aqui nos possibilita ir a pé, já os mais distantes são feitos de autocarro, comboio, de carris ou elétricos, como eles chamam o que nos lembra os antigos bondinhos de Santa Teresa no Rio de Janeiro.
Ao abrir a janela, me deparei com a lembrança dos momentos em que desejei descobrir o mundo, para além do que eu já conhecia, conhecer novos territórios.
Junto com a vontade de desbravar e explorar o mundo, existia o medo de estar livre em um lugar desconhecido, longe da “Segurança” de saber onde me esconder ou buscar abrigo. Lembro que a primeira coisa que fiz, não foi verificar o valor do passaporte ou fazer uma colagem de mapas em um caderno fofo. Não fui ver as paisagens que gostaria de fotografar ou pesquisar os hotéis confortáveis que coubessem no meu bolso. O que eu fiz, de forma muito automática, foi entender as estatísticas e histórico de racismo e machismo nos países. Bem antes de começar a minha viagem prazerosa pelos livros e vídeos.
Começou assim a minha busca pela tão sonhada liberdade, pelo lado que me prendia e que de certa forma me impossibilitava de voar. Aliás a expressão “Voa menina” é o que mais ouvi nos últimos anos e como é libertador poder voar, mesmo que com alguns medos, em direção aquilo que nos aquece o coração.
Eu tenho 30 anos e faltando menos de 2 meses para os 3.1 chegar, brindo um novo ciclo. Essa semana sentei em uma das calçadas abarrotadas de turistas, bem na praça do comércio e contemplei a minha liberdade. Liberdade simbólica e significativa de poder vivenciar a minha história e não apenas o que me sobra.
A cada rua que percorro, a cada esquina que viro e a cada nova pessoa de um país diferente com quem converso por aqui, usando o google tradutor, já que percebi que mesmo em um país lusófono a comunicação ainda tem ruídos entre palavras e sentidos, me pergunto quanto foi nos tirado.
Principalmente para a mulher negra, onde além da solidão que a persegue desde pequena, como bem falado pela Ana Paula Xongani, youtuber que desabafou sobre o assunto em seu canal, ao relatar um episódio vivido com sua filha, nos deparamos com a falta de liberdade. A falta de liberdade que nos inviabiliza sonhar e realizar.
Existo neste mundo como uma pessoa negra e não vou permitir que isso me impeça de ir a qualquer lugar que queira, Ou seja, a todo o lado”
-Jéssica Nabongo
Precisamos construir e levar novas narrativas para abrir caminhos, mesmo que ainda solitários, para que outras mulheres negras se vejam nesse lugar possível de desbravar o mundo, como a Jéssica Nabongo que tem o propósito de ser a primeira mulher negra a viajar por todos os países do mundo.
Essa frase não te parece absurda? mas é realista. Como pode que, em pleno século XXl, ainda não hajam tantas mulheres negras viajantes a conhecerem o mundo. Como assim? porque? eu me questiono.
É mais que urgente que possamos quebrar barreiras e mudar essas estatísticas.
Jéssica é fundadora e chefe executiva da Jet black e leva um estilo de vida nômade, viajando o mundo e compartilhando sua história em seu blog.
Nos últimos dias, tenho analisado de forma profunda, o que realmente eu quero e desejo fazer com a minha trajetória aqui nesse mundo e bem no fundo de forma visceral eu desejo ser livre, seja atravessando a rua ou o continente.
Ser livre pra mim e para tantas outras mulheres, principalmente negras e periféricas que se encontram em estado de inércia, dominada pelo medo e ainda não sentiram o gosto da liberdade.
Voa menina! Voa e dê asas para tantas outras. Até que chegue um dia, em que a gente simplesmente possa voar, sem nenhum peso das que ainda não conseguiram subir também.
Aproveita e dá uma passadinha pelo meu primeiro vídeo em terras portuguesas e me segue no instagram.