Candidatos e candidatas dos pleitos municipais alinhados às políticas de Jair Bolsonaro tentam se desvincular do desastre da gestão presidencial ao mesmo tempo que aproveitam as divisões na esquerda e surfam no efeito do auxílio emergencial. E seguindo a mesma lógica eleitoral, Jair Bolsonaro se esforça para montar um exército de prefeitos (as) e vereadores (as) que o ajudem a se reeleger em 2022.
O fim das coligações partidárias em pleitos proporcionais e a cláusula de barreira trouxeram novos desafios aos partidos políticos e também aos candidatos que precisam ser mais competitivos entre si. Uma vez que o discurso antipolítica não se mantém mais no Brasil extremamente polarizado pós-eleições presenciais, os candidatos(as) das eleições municipais precisarão apresentar uma “nova política” em cenário de pandemia, desemprego e instabilidade política e econômica.
Se em 2018 não ter partido ou se apoiar em slogans como “não sou político” foi sinônimo de carácter e idoneidade, em 2020 começa a causar medo. Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro e Carolos Moisés, governador de Santa Catarina são exemplos negativos de renovações sob qualquer condição. O enfrentamento à pandemia também mostrou o resultado desastroso na comparação de gestores de partidos novos e políticos de partidos tradicionais. Se nas eleições presidenciais tínhamos eleitores raivosos e corajosos ao ponto de criar uma grande polarização que atingiu desde os debates políticos até a mesa das famílias, agora temos eleitores cansados, preocupados e buscando garantias, histórias e raízes.
A falta de posicionamento político e participação em grandes crises do passado deixou de ser um bônus, a pandemia traz medo de arriscar e necessidade de efetividade e articulação. As convenções partidárias terminaram na última quarta-feira, 16, e trazem o desafio dos partidos políticos elegerem suas campanhas majoritárias sem coligações proporcionais, ou seja, não há mais como votar no partido “A” para ajudar eleger a bancada do partido “B”. E enquanto os partidos lançam seus candidatos próprios em maior número que pleitos anteriores, Bolsonaro, ainda sem partido, se mantém em silêncio sobre as eleições municipais, apenas sondando os movimentos, principalmente da esquerda para construção das candidaturas de 2022.
Nesse momento eleitoral, onde as campanhas serão quase que exclusivamente virtuais, candidatos com base já fidelizada têm vantagem, pois já possuem grupos e comunidades on-line. É também nesse momento que iremos testar o engajamento e o poder das notícias verdadeiras contra as fake news. Serão nessas eleições que serão testados o poder do auxílio emergencial, das obras de assistência ao povo e possível reavaliação da economia com gastos públicos. Com certeza a estratégia de Bolsonaro será traçada a partir dessas eleições.
Interpretar as eleições de 2020 será fundamental para construir as eleições de 2022. Desejo toda a sorte e força às candidaturas comprometidas com o povo e com a democracia, com cidades mais humanas e participativas e, principalmente, com menos miséria e mais oportunidades para todos.