A luta incansável de quem não tem direito a nada

Na favela, isolamento é artigo de luxo para quem trabalha todo dia - Foto da internet

A ativista Gizele Martins, uma das lideranças mais atuantes e conhecidas não só na Maré, mas em muitas favelas cariocas publicou, na segunda-feira, 8, no seu perfil no Facebook, o apelo pela favela que ao mesmo tempo é desabafo dos que lutam em várias frentes na defesa das vidas nas periferias políticas, econômicas e sociais brasileiras: “O que a gente não pode deixar de fazer é gritar, estamos pedindo socorro. A favela quer viver, mas a gente precisa da força de todo mundo e de ações concretas e respeitosas”, escreve ao final. Confira abaixo a mensagem de Gizele:

“Os coletivos de favelas que organizaram os atos são os mesmos que estão há 3 meses lidando com a dura e cruel realidade da favela durante esse período de pandemia. Estamos fazendo campanhas de comunicação e distribuindo os alimentos que conseguimos. Estamos vivendo o verdadeiro caos: muita gente morrendo em casa de Covid, a Defesa Civil demora dias e mais dias para buscar os corpos; desemprego, sem grana para o aluguel, sem água, sem máscaras, energia.

São os nossos que estão trabalhando: porteiros, empregadas domésticas, motoristas de ônibus, além dos entregadores que levam o que a classe média pede pelo seu aplicativo…ou seja, nem direito ao isolamento social temos porque os governantes não garantiram isso para a nossa população negra e pobre. Além disso, é nesse período de pandemia que a polícia que mais mata no mundo assassinou mais de 600 jovens negros das favelas e periferias. Aí a gente marca um ato e logo somos pressionados a desmarcar, ligações e mais ligações, mensagens e mais mensagens…

Além das inúmeras discussões e exposições de cada coletivo de favela em diversos grupos de zap. Um horror. Um medo de sermos mais criminalizados, medo da direita e de parte até dos que dizem estar do nosso lado. Enfim, pra terminar queremos dizer que a favela está mais abandonada do que antes, estamos enterrando os nossos que estão morrendo de tiro e de Covid. O que a gente não pode deixar de fazer é gritar, estamos pedindo socorro. A favela quer viver, mas a gente precisa da força de todo mundo e de ações concretas e respeitosas. Para criminalizar e dar medo já bastam os tanques de guerra na favela e no asfalto quando a gente de forma organizada ocupa as ruas”.