Em sequência ao assunto dos últimos dias, a república brasileira, é bom reconhecer a presença amplamente majoritária de civis no cargo de presidente, depois que os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto inauguraram o período entre a proclamação, em 1889 e 1894. Duas ditaduras romperam a democracia, o Estado Novo (1937/45) e a ditadura civil-militar de 1964 a 1985, com cinco generais se sucedendo em Brasília em eleições indiretas no Congresso Nacional. Outros três militares foram presidentes pelo voto direto: Marechal Hermes da Fonseca, no começo do século passado, Eurico Gaspar Dutra, no pós-segunda guerra mundial, e Jair Bolsonaro, em 2018.
Parece pouco, é verdade, mas a presença militar no comando da nação sempre representará uma ruptura, um vício de origem, um pecado original. A ditadura de 1964/85 e seus cinco generais sucessivos é o exemplo mais recente e eloquente do que digo, além de ter servido de paradigma e exemplo aos desmandos administrativos e políticos verificados nos últimos quatro anos. A mim me parece que o maior perigo que vivemos hoje é a volta dos militares com uma roupagem um tanto civilista, ou enganosa, porque a história ensina que eles jamais entendem a nação brasileira como o restante da população. O patrimonialismo sustentado na força armada impõe o silêncio e a censura aos atos excepcionais, dos quais são exemplo o sigilo de cem anos e o orçamento secreto, ambos condenados mas tolerados pela classe política como mal necessário à sua própria sobrevivência.
Manifestações às portas dos quartéis são aceitas e encorajadas abertamente por generais golpistas como Eduardo Villas Boas e já dão margem a Bolsonaro perdi a anulação das eleições, enquanto Lula conversa com o mundo e retoma as rédeas da democracia.