Premiação Mestre das Periferias 2018 é marcado por força, luta e ancestralidade

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O instituto Maria e João Aleixo apresentou na noite dessa quarta feira (09) o prêmio Mestre das Periferias que homenageou pessoas cuja trajetória, práxis e múltiplas produções colaboram para conquistar olhares e construir ações que ampliem a potência das periferias.

Créditos- Arlene Martins/ Ivana Dorali, jornalista do Instituto Maria e João Aleixo e Mestre de Cerimonia do evento.
Créditos- Arlene Martins/ Ivana Dorali, jornalista do Instituto Maria e João Aleixo e Mestre de Cerimonia do evento.

Para Ivana Dorali, mestre de cerimônia do evento e jornalista do Instituto Maria e João Aleixo, o evento foi um verdadeiro presente, devido sua magnitude e importância de estar acontecendo num espaço tão emblemático. “Foi um trabalho coletivo muito grande para fazermos esse momento muito bonito. ” E para 2019 ela espera que o prêmio alcance seu reconhecimento não só no Brasil mas sim tenha internacionalidade e, que nos próximos possam homenagear grandes nomes que atuam na América Latina.

O evento foi carregado de emoção com as falas dos homenageados, mas faltou aquela que teve sua voz calada e ficaria extremamente feliz com a premiação, a Vereadora Marielle Franco que foi assassinada em março de 2018 e até agora não tivemos respostas desse crime bárbaro. Representada por sua Irmã Anielle Silva, sua filha Luyara Franco e sua Mãe Marinete da Silva, que receberam o prêmio e trouxeram um discurso muito familiar que tomou o público de um sentimento de luta e força. A Mãe de Marielle tinha acabado de chegar de Roma, onde foi ao encontro do Papa Francisco que a ouviu sobre a morte de sua filha. “Estou profundamente triste como as coisas estão acontecendo, arrancaram minha filha de mim de forma bem cruel e não dá para explicar o que estou sentindo” diz.

Créditos - Arlene Martins /Conceição Evaristo em entrevista a ANF
Créditos – Arlene Martins /Conceição Evaristo em entrevista a ANF

Em entrevista a Agencia de Notícias das Favelas a Mestra em Literatura Conceição Evaristo falou sobre ser homenageada: “Receber o prêmio de Mestre das Periferias é um certificado que eu não perdi minhas raízes, essa experiência aguça o meu olhar para outros conhecimentos, e a certeza eu estou sendo reconhecida desde minhas raízes e ancestralidades. Que eu posso estar dialogando em um salão de livros em Paris que eu não perdi a perspectiva ou o diálogo de estar na Maré e isso é muito bom, pois eu imagino que uma cultura só faz sentido quando ela me possibilita o diálogo com o outro. Uma cultura que te restringe, te distância do outro ela não serve para nada.”

 

 

E os homenageados da Noite foram:

Ailton Krenak:

É cidadão Krenak, nascido na região do Médio Rio Doce em Minas Gerais. Durante os anos 70 atuou como produtor gráfico e jornalista. Nos anos 80 alcançou papel de destaque com a criação do Núcleo de Cultura Indígena e com a sua intervenção decisiva na Constituinte de 1988, defendendo a garantia dos direitos dos povos originários. Em sua caminhada extensa e plural como militante e intelectual, publicou textos relevantes, criou instituições centrais na luta das etnias originárias, nas causas ambientais, protagonizou documentários e foi assessor especial de políticas indígenas em Minas Gerais. Leciona na Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF desde 2016, ano em que foi laureado com o título de doutor Honoris Causa. A partir de sua atuação, a luta indígena foi capaz de disputar seu status simbólico de condição de sujeito pleno de direitos históricos e, assim, conectar-se à rede intercontinental de povos e organizações que defendem a potência do sujeito coletivo indígena. É uma das maiores lideranças dos povos originários do Brasil e América Latina.

 

Antônio Nêgo Bispo:

Antônio Bispo dos Santos, ou Nêgo Bispo, nasceu no Vale do Rio Berlengas (PI), criou-se no Quilombo Saco-Curtume (São João do Piauí/PI) e construiu em sua trajetória uma relevante atuação a partir de sua territorialidade, ancestralidade e cosmovisão quilombola. Lavrador; poeta; escritor; intelectual; ativista; militante; professor convidado em universidades; documentarista; liderança quilombola ou, como prefere ser chamado, um ‘relator dos saberes’. A partir de sua produção intelectual e militância política, desenvolveu não só uma crítica consistente ao modelo de sociedade imposta aos povos negros e indígenas e demais populações de periferia, mas também procurou trazer à luz o longo histórico de luta das populações subalternizadas em sua busca por estabelecer outros paradigmas de pensar e viver, para além dos modelos hegemônicos.

 

Conceição Evaristo:

Mineira da periferia de Belo Horizonte, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1971, onde estudou letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e iniciou sua militância no Movimento Negro. É Mestra em Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RIO e Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense – UFF. Criou uma nova forma de escrever na Literatura, a escrevivência, com a qual partiu de suas experiências de vida como mulher negra para formar a base de suas obras. Publicou suas primeiras obras em 1990, na série Cadernos Negros, promovida pelo Coletivo Cultural e Editora paulista Quilombhoje. É autora dos livros Ponciá Vicêncio (2003), Becos da Memória (2006), Poemas de recordação e outros movimentos (2008), Insubmissas Lágrimas de Mulheres (2011), Olhos D’Água (2014) e Histórias de leves enganos e parecenças (2016). Foi tema da Ocupação Itaú Cultural, em 2017, realizada no Centro de Artes da Maré – CAM, Maré – Rio de Janeiro. Vencedora dos prêmios Jabuti de Literatura de 2015, na categoria Contos e Crônicas, por Olhos D’Água; Faz a Diferença – Categoria Prosa, de 2017; Prêmio Cláudia – Categoria Cultura, de 2017; Prêmio de Literatura do Governo do Estado de Minas Gerais, em 2017; e o prêmio Bravo como Destaque também em 2017.

Marielle Franco (em memória):

É cria da Maré, onde passou sua infância e juventude e iniciou sua militância em defesa da Favela. Formou-se em Sociologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RIO. Fez mestrado em Administração pela Universidade Federal Fluminense – UFF, tendo como tema de sua dissertação: “UPP: a Redução da Favela a Três Letras”. A partir de 2006, atuou em diversas iniciativas direcionadas ao Conjunto de Favelas da Maré e na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados do Rio de Janeiro – ALERJ, representando o mandato do Deputado Estadual Marcelo Freixo – PSOL RJ. Em 2016, foi a quinta candidata mais votada no município, elegendo-se vereadora. Assumiu a coordenação da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, onde atuou até ser assassinada em março de 2018.