A décima nona edição do “Slam da Quentura” ocorreu dia 25/05, em Sobral/CE.
Esse evento é resultado do movimento que reúne pessoas que se comunicam via poesia recitada em praça pública. O “Slam da Quentura” teve sua primeira edição em março de 2017, numa praça localizada na parte mais central da cidade, conhecida como Praça do Farias Brito. E integra um movimento nacional que já ocorre em outras cidades do país, mas foi o primeiro do estado do Ceará.
O evento é a reunião de pessoas, sobretudo, artistas ligados a poesia marginal (não acadêmica), rap, grafite e outras artes, residentes em diversos bairros periféricos de Sobral que vão para a praça mencionada para compor sua “cena poética”.
O sobrenome que batiza esse Slam tem forte relação com o clima altamente quente que predomina praticamente em todas as estações do ano na cidade de Sobral. A “Quentura”, portanto, remete a uma identificação com esta urbe do Ceará.
Os poetas levam para esse espaço público poesias que falam sobre o que acontece no chão da periferia da cidade. Os slamers, como são conhecidos aqueles que recitam nos slams, declamam sobre violência, pobreza, feminismo, machismo, racismo, dentre outros, que lhes são importantes, sobretudo, porque as circunstâncias narradas, são relacionadas a experiências presentes em suas vidas cotidianas. Eles e elas fazem a crítica social e mostram resistência, coragem e força para enfrentar estas experiências.
A partir dessa iniciativa, o Slam das Cumadi surgiu na cidade, mas especificamente, em outubro de 2018, e sua quinta edição ocorreu dia 29/03/2019. Este, tem uma proposta de ser um momento onde apenas as mulheres recitam poemas sobre as circunstâncias relacionadas ao feminismo negro, de preferência. Cabe lembrar, que o público pode ser composto por qualquer pessoa, independente da orientação sexual, mas o momento da batalha poética, é disputado apenas por mulheres, e com um júri formado também por elas.
Esse evento também acontece em espaço público central da cidade, e integra na sua realização, um público diverso e numeroso que aprecia o recitar dessas poesias marginais, expressão que fala de um tipo de manifestação poética não acadêmica, que de alguma forma, acaba reforçando as lutas diárias vividas por estas pessoas no território que habitam.
Também serve como meio de fortalecimento de uma identidade coletiva vinculada a periferia.
Dessa forma, os Slams trazem em suas edições e poesias, narrativas poéticas que são pertinentes aos diversos segmentos sociais mais marginalizados, aqueles rotineiramente aviltados nos seus direitos, como os LGBTQI+, mulheres e o povo preto periférico. São eventos que reúnem todos esses sujeitos que vêm para ouvir poesias que trazem narrativas reais, mostrando resistência. Há aí, uma identificação, pois, a diversidade de relatos poéticos acabam por contemplar lutas e situações bem semelhantes aos grupos ali presentes.
O acontecimento dos Slams acaba por valorizar territórios periféricos mesmo sendo realizados em praças centrais. A partir da composição da cena poética, trazem na sua estética, linguística e performances, elementos que de alguma forma, caracterizam os espaços pertencentes àqueles sujeitos das periferias, que vêm para recitar e/ou ouvir sobre as circunstâncias que lhes são peculiares enquanto pessoas que sofrem na pele todos os dias os açoites sociais que lhes aviltam diariamente.
A poesia marginal que se origina a partir dessas reflexões, têm a principal motivação e bandeira de luta, resistir para existir, visto que, as mazelas sociais, a negação de direitos e as tentativas de anulação do outro, se fazem mais visíveis nesses grupos mais marginalizados socialmente. A cena dos Slams é essa válvula de escape, momento de desabafo e compartilhamento de opiniões, de críticas e reforço de laços solidários com os sujeitos periféricos, porque nesses eventos, também se compartilham amores e afetos.