A política de abatimento de Witzel

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Ontem, dia 20 de agosto, um sequestro de ônibus na ponte Rio – Niterói causou uma grande comoção nas duas cidades. Além dos momentos de tensão vividos pelas vítimas, parentes e por quem passava no local, o trânsito nos arredores da ponte ficou totalmente parado causando grande transtorno a população. O sequestro que foi transmitido ao vivo por emissoras de tv e terminou de uma forma que parece comum no Rio de Janeiro: o criminoso abatido.  No Governo de Wilson Witzel a palavra “abater” é uma política de Estado, sendo uma das suas principais propostas a autorização para que a polícia em helicópteros pudesse “abater” quem fosse visto portando um fuzil.  Na época da declaração muito se discutiu sobre como a estratégia mataria inocentes, uma vez que não são raras às vezes em que guarda chuvas são confundidos com fuzis pela polícia, ou como a política de abatimento vêm matando inocentes na favela diariamente.

A política de abatimento é reflexo de uma sociedade que está cansada e que não vê que apoiar tais políticas é uma reprodução da violência que queremos combater.  O governador do Rio de Janeiro deu um grande exemplo disso, ao descer do helicóptero aos pulos, comemorando – como se fosse a copa do mundo – uma tragédia. Por mais que a operação tenha sido considerada um sucesso, já que foram salvas 37 vidas, uma pessoa levou 6 tiros. Uma pessoa com nome, que tem mãe e parentes, que independente das suas atitudes, irão sofrer com sua perda. No Twitter Bolsonaro elogiou a polícia e disse “Hoje não chora a família de um inocente”. Não entrando em detalhes de se foi correta ou não a ação da polícia no caso do sequestro, o que assusta são as atitudes dos representantes do nosso Estado que trata com normalidade uma política de abatimento, que não se limita a essa ocasião. Tanto o presidente quanto o governador do Rio mostram cada dia mais sua perda de humanidade.  Clarice Lispector, em uma crônica ainda muito atual disse: “(… ) Na hora em que o justiceiro mata, ele não está mais nos protegendo nem querendo eliminar um criminoso, ele está cometendo o seu crime particular, um longamente guardado. Na hora de matar um criminoso – nesse instante está sendo morto um inocente.”

Witzel, aproveitando-se do momento de sucesso da polícia no sequestro do ônibus ontem, fez propaganda da sua política, alegando que “Se não tivesse abatido esse criminoso muitas vidas não teriam sido poupadas. E isso está acontecendo nas comunidades. Se a polícia não abatesse quem está com fuzil nas comunidades, muitas vidas não seriam poupadas”. A declaração não condiz com a realidade do Estado do Rio de Janeiro, que na semana passada teve 6 jovens inocentes mortos em um período de 80 horas. O jornal El Pais, publicou na semana passada, uma reunião de cartas de crianças do Complexo de Favelas da Maré que foram enviadas para a Justiça do Rio. Em uma das cartas a criança diz “Não gosto do helicóptero porque ele atira e as pessoas morrem”. As cartas e os números da semana passada mostram que apesar dos pulos de felicidades do governador que comemora um homem abatido, a mensagem que ecoa nas comunidades é de tristeza pois não se sabe quantos mais inocentes morrerão em nome da sua política de “mirar na cabecinha e… fogo”.