À procura da rima perfeita: rodas de rap ocupam favelas

Nos últimos anos, as rodas de rima estão cada vez mais presentes dentro das favelas cariocas. O fenômeno, que começou a ganhar maior evidência com eventos em praças de Botafogo, Meier e Vila Isabel, hoje acontece em mais de 50 pontos da cidade, incluindo as comunidades de Acari, Cidade Alta e Vila do João.

“Muita gente na favela gosta de rap, se identifica, mas ainda faltam opções para curtir nas favelas da Zona Norte”, explica Wellington Ferreira, mais conhecido como Spike MC. Ele é um dos organizadores da Roda Cultural Alcateia, uma das mais novas rodas de rima da cidade. O evento vem se consolidando na favela de Acari, mais precisamente na Rua Bolonha. A Roda Cultural da Vila do João, também conhecida como Roda da VJ, acontece aos domingos, sempre a partir das 18h, na Rua Principal. “No momento, já aconteceram 16 edições”, ressalta André Sales, morador da favela e um dos responsáveis pela divulgação da atividade. Focada nas batalhas de MCs, a roda movimenta de 50 a 100 pessoas, até embaixo de chuva, como aconteceu na última.

 

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Créditos: Divulgação

 

As rodas de rimas seguem na batalha para envolver cada vez mais gente, independentemente de questões como violência e facções rivais, o que muitas vezes impede o livre trânsito entre os moradores de favela. “Não fazemos apologia ao tráfico. Essa guerra não é minha. Levo meu rap aonde estiver o público”, encerra Spike.

Cidade Alta: do funk ao rap

Em 2012, o fim do baile funk da Cidade Alta, um dos mais tradicionais do Rio, deixou um vazio na cena cultural local. Isso vem sendo resolvido com a Roda da Cidade Alta, que acontece todo sábado. Além de batalha de MCs, a roda traz apresentações de grupos de rap de outras regiões. Uma vez por mês, o evento também abre espaço para outros segmentos, como rock, reggae e o próprio funk. Sabrina Gonçalves, de 15 anos, mais conhecida como MC Nabrisa, foi a primeira menina a batalhar no evento: “É muito gratificante sair de Campo Grande, participar e ainda por cima ganhar aqui. Não tem muitas meninas participando, mas estão abrindo espaço na favela.”

 

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Créditos: Nyl de Sousa / ANF

 

O morador da Cidade Alta MC Langa é um dos organizadores. Atuante na cena do funk, ele afirma que o objetivo da Roda da Cidade Alta é unir as diversas vertentes da chamada música preta na favela: “Tudo junto é muito melhor”, resume. O evento permite a interação não só de grupos de outras regiões, mas, principalmente, de um público cada vez mais diverso. “Antigamente, eram poucas pessoas e uma caixa de som pequena. Agora, vem muita gente de outros lugares e o equipamento de som está maior”, conta a frequentadora Sarah Rodrigues.

 

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Créditos: Fabiano Ribeiro

Publicado na edição de Outubro de 2016 do Jornal A Voz da Favela