Afundado em saques constantes aos cofres públicos, o Estado do Rio de Janeiro se vê num beco sem saída. Foram milhões desviados, acordos escusos regados a muitas taças de champanhe, grandes obras onde o superfaturamento aflorava em conversas regadas também a uísque 12 anos. Ali se decidia os rumos das vidas de milhares de pessoas. Foram anos de benesses e poderio, homens intocáveis e falastrões que vendiam toda e qualquer possibilidade de tornar fácil a vida dos cidadãos. Foram tempos em que se surrupiava qualquer que fosse a chance de fazer alguém alcançar a própria dignidade.
O plano arquitetado para quebrar o Estado incluía também a execução dos pobres favelados e periféricos, tirando-lhes o acesso ao direito de ir e vir dentro do próprio seio habitacional, extirpando o acesso à educação, cultura e lazer. Ainda que existam alguns equipamentos culturais por aqui, os confrontos não nos permitem alcançá-los. Hoje, ir ao cinema ou à Nave do Conhecimento aqui no Alemão é quase impossível.
Todo o investimento foi pensado sob a ótica do lucro, elaborado com o intuito de usar a pobreza como chancela e a assinatura do pobre como avalista. Nós estamos pagando essa fatura com pesadas prestações. O governo nos enganou, nos tirou a chance de viver, a esperança de dias melhores e a comida da nossa boca, afinal, muitos de nós estamos hoje sem emprego, sem expectativa de um amanhã.
O rombo nas contas públicas é a cada dia mais assustador. Além da dívida que o Estado já possui, ele segue aumentando. O arrocho será ainda maior e, com toda certeza, a favela vai seguir com seu destino de pagar o ônus de diversas formas. Os poucos investimentos que deveriam chegar ficam em último plano. Sempre foi assim.
No descaso atual, até a nossa água agora já não é nossa. Também nos usurparam a Cedae de forma vergonhosa, em plena luz do dia, mesmo que sem muito alarde. Nos roubaram, exatamente aqueles que dizem defender os direitos do povo, ocupando lugar de representatividade. Votaram contra o povo, contra nós. Aonde vamos parar? Estamos cansados de sofrer. Estamos atônitos com tantas coisas erradas. Queremos uma solução, uma luz nessas densas trevas. Os tempos são do reino dos corruptos? Então, vamos pará-los de qualquer jeito.
Ouvimos os tambores de nossos algozes, prontos para nos executar, dar cabo de todos aqueles que não se curvam a esse momento drástico e de penúria. A sentença já foi dada. Os gritos nas ruas são de pedidos de socorro, com mais um morto estirado no chão ou mais um trabalhador roubado no asfalto – afinal, a violência aqui e lá alcança níveis assustadores.
A maior festa do planeta pode até acontecer, mas não podemos esquecer das milhares de pessoas que estão sem o que comer em casa, sem poder ir ao medico, sem salários, sem chão. O povo pobre do gueto, mesmo em plena véspera da festa da carne, queria apenas, nesses quatro dias, de folia pular, dançar e se divertir. Mas estou vendo que não será muito fácil ter dias felizes. O enredo, dessa vez, não vai dar samba.
Chego a me perguntar: teremos motivos para pular carnaval?