Tenho evitado comentar muito sobre as UPPs, já que realmente há coisas boas e coisas ruins que envolvem esse tema. Ontem, no teleférico do Complexo do Alemão, um pai de três filhos, trabalhador da construção civil, que estava chegando do trabalho disse: “Tá bom e tá ruim. Tá bom porque meus filhos não estão vendo pessoas armadas e se drogando pelas ruas, tá ruim porque tem opressão.” Perguntei sobre o teleférico e ele disse: “É bom, mas é mais para os gringos que pra nós.”
De fato, o secretário Beltrame conseguiu o que queria: Devolver a população o direito de ir e vir. Várias pessoas que não subiam a favela estão subindo. Deu a possibilidade de pessoas de uma favela que eram(?) controladas por uma facção andarem por favelas que eram(?) controladas por outra. Como não dá mesmo para esperar perfeição, aconteceu com isso a entrada das grandes empresas, o que foi bom para os empresários e para os moradores que queriam esses serviços, mas trouxe junto o pagamento de impostos e contas, contas essas que muita gente não estava preparada. Também houve crescimento do número de pessoas que querem, agora, morar em uma favela, comprando e alugando imóveis, expulsando assim consequentemente os moradores locais.
Sabemos que apesar da UPP o tráfico continua e não vai parar nunca. Só para quando o que é vendido por eles for regulamentado pelo estado, mas isso é outro assunto. O fato é que cada vez que um policial despreparado comete alguma violência com um trabalhador, como temos visto em várias favelas, fortalece mais os garotos ainda continuam fazendo seu “negócio” nestes locais.
Não podemos esquecer de citar o fato do controle que os comandantes das UPPs tem exercido nas favelas. Em alguns casos, como no caso do jacarezinho, já relatado pelo presidente da Associação de Moradores, o comandante sequer se reúne com o representante local, legitimamente eleito pela população. Em outros lugares, chegam inclusive a apoiar e eleger o presidente da Associação de Moradores. Há relatos também de controle de outras coisas, mas isso ainda é especulação, especulação essa que que devemos nos preocupar, porque se o estado não tiver recursos para manter esse contingente pós mega-eventos, há quem acredite que esses territórios podem se transformar em territórios de milicias.
Em tempo: Não se pode negar que as UPPs facilitaram a integração favela-asfalto, propiciando também a visitação desses lugares, gerando renda para a população local.