Deixei de enviar matéria por dois dias e o que aconteceu no país digno de capturar a atenção nacional? Manutenção do orçamento secreto? Bolsa Família fora teto de gastos? Manifestantes golpistas dissolvendo-se nos temporais brasilienses no Setor Militar Urbano? Nem mesmo Malafaia mandando aos gritos Bolsonaro prender os generais contrários ao golpe?
Nada disso. A notícia quente nas rodas de conversa no país neste par de dias – muito especialmente na capital federal – foi a viagem de Eduardo Bolsonaro com e esposa ao Catar, onde desfilou a camisa amarela da CBF como torcedor que jamais foi, disfarçando o conspirador de primeira hora contra o Brasil. Consta que foi entregar um pen drive contendo informações estratégicas sigilosas sobre “o nosso país”, como diz César Tralli, nosso cúmplice.
A mim pouco importam as informações que Dudu entregou de bandeja aos árabes, como tampouco se sua presença na Copa do Mundo revoltou ou não os manifestantes dentro ou fora dos quartéis. Ou ainda a contrariedade de seu papai com o comportamento filial, vazada parcimoniosamente nas redes sociais como tenho visto aqui e ali.
Os dois nunca foram muito fieis um ao outro, as relações entre eles nunca foi estável nem confiável. Para dar uma ideia, quando papai foi candidato a presidente da Câmara, teve quatro ou cinco votos dos 513 possíveis – e Dudu não foi um deles porque viajava em plena eleição. Cobrado, disse vagamente: “Pensei que era semana que vem”.
Dia a dia, o eixo das informações se transfere para o CCBB, sede da equipe de transição dos governos, primeiro porque lá acontecem as novidades da hora, acertos e conchavos novinhos em folha (às vezes nem tanto). Diretrizes, nomes, metas, praticamente tudo é definido no local afastado do centro político da capital. O CCBB, como o nome indica, é um Centro Cultural, e nesta qualidade representa uma derrota extra do governo que nos primeiros dias, lá em 2019, extinguiu o Ministério da Cultura como medida profilática de ignorantes crassos juramentados e batizados por aspersão e por imersão.
Por natural na esfera política, as conversas, arranjos e discussões chegam ao Congresso Nacional, a casa legislativa onde as mudanças são sacramentadas por deputados e senadores. Há um espaço também no Palácio do Planalto, sede do Executivo em tese maior interessado em garantir seu legado de feitos e realizações ao passar o bastão para o presidente entrante.
Este espaço está abandonado, vazio, melancólico. Suas negociações se desenvolvem nas portas dos quartéis, nos Estados Unidos, na Arábia Saudita e até no Catar onde um estranho pen drive aterrissou no bolso do filho do presidente.
O povo dá sinais da cansaço ante a pantomima presidencial, o mimimi e o chororô. O homem que assumiu pregando armas para o povo se despede como o responsável pelo retrocesso social e sobretudo econômico. Por pouco ele conseguiu voltar 50 anos no tempo, como queria, situando o país em 1972, o período mais duro da ditadura militar.